Comentários sobre K., de Bernardo Kucinski

Hoje, quando finalmente o Brasil anuncia a intenção de pelo menos investigar os responsáveis pelos crimes de Estado cometidos durante o regime militar (punir, como os argentinos, jamais!), K. deveria ser leitura obrigatória para todos os membros da nossa tímida Comissão da Verdade, criada com quatro décadas de atraso.

Maria Rita Kehl*

“Acendo a história, me apago em mim”; a citação de Mia Couto que abre o romance de Bernardo Kucinski ganha seu pleno sentido somente depois que o leitor chega à última página. “Apagar-se” na tentativa de acender uma história que nunca foi contada é uma imagem que sintetiza a epopéia do pai idoso à procura da filha desaparecida durante a ditadura militar brasileira. Mas é também a posição do próprio narrador: é possível que o estilo contido e preciso de Bernardo Kucisnki tenha sido construído à custa de um corajoso e calculado método de apagamento subjetivo.

Na medida em que avançava na leitura de K., aumentava em mim a impressão de que só assim, apagando-se, teria sido possível ao autor encontrar coragem para reconstituir o sofrimento do pai que procura em vão pela filha e se convence aos poucos de que nunca a reencontrará, nem terá direito a homenagear seus restos mortais. A contenção no estilo da narrativa, longe de aparentar frieza ou impessoalidade, coloca o leitor em permanente estado de alerta diante do campo minado do texto. Uma bomba de dor está para explodir no capítulo seguinte, no parágrafo seguinte, enquanto a brutalidade que a provocou se insinua, sistemática, a cada nova tentativa de K. encontrar notícias da filha e do genro desaparecidos.  (mais…)

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Chico Buarque sobre racismo: não existe branco no Brasil

Em uma de suas raras entrevistas, Chico Buarque fala sobre racismo e a sua visão de Brasil. Segundo o artista, não existe branco no Brasil e é uma ilusão o brasileiro querer negar a mestiçagem nacional. Chico também relata casos de racismo sofridos pela família. Ele conta que já foi vítima de piadas racistas por conta do genro, Carlinhos Brown, ser casado com sua filha Helena Buarque. O vídeo é de 26 de abril de 2008.

http://www.vermelho.org.br/tvvermelho/noticia.php?id_noticia=168770&id_secao=29

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Escândalo Chevron: mentiras, multas irrisórias, politização e pré-sal

Petroleira norte-americana responsável por desastre ambiental escondeu das autoridades informação sobre fim de vazamento e tentou iludi-las com vídeo editado. Multas iniciais e pedido de indenização chegam no máximo a R$ 250 mi, quase nada para quem fatura US$ 200 bi. Para PSDB, governo demorou a agir. Partido não se indignou com ‘mentiras’, como fez com ministro, nem pediu CPI da Chevron, suspeita de buscar pré-sal alheio, como fez com Petrobras.

André Barrocal e Najla Passos

BRASÍLIA – “É política do grupo preservar a segurança, a saúde das pessoas e o meio ambiente, bem como conduzir operações confiáveis e eficientes.” O grupo em questão, acredite, é o norte-americano Chevron, protagonista de um dos maiores desastres ambientais da história brasileira. Graças a operações nada confiáveis e eficientes com petróleo no Rio, a empresa é hoje alvo da Polícia Federal (PF) e da cobrança de indenização e de multas milionárias.

Recheado – segundo autoridades – de omissão de informações e inverdades, e com cheiro de atentado à soberania nacional diante de uma possível tentativa de explorar petróleo pré-sal alheio, o caso Chevron é revelador. Permite ver com nitidez como a legislação brasileira pode ser generosa com empresas privadas. E como a luta política entre governo e oposição às vezes ajuda a perder a noção de que algo verdadeiramente escandaloso está acontecendo.  (mais…)

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Índios ocupam novamente usina hidrelétrica do Nortão em protesto

Bianca C. Zancanaro

Mais de 50 índios das etnias Arara e Cinta Larga, armados com arco, flecha e burduna, estão acampados, deste hoje pela manhã, na Usina Hidrelétrica de Energia (UHE) Dardanelos, em Aripuanã, onde reivindicam da empresa resposável pela usina direitos de compensação ambiental pelos impactos da obra.  O capitão da Polícia Militar, Anderson Luiz da Silva, que acompanhou as negociações, disse, ao Só Notícias, que os indígenas pedem R$ 50 mil por mês para manter duas associações que foram construídas nas aldeias, além de duas caminhonetes e dois carros.

No início do manifesto cerca de 18 funcionários foram feitos reféns, porém, por intermédio da PM eles foram liberados.  Pela tarde, os índios se reuniram com os responsáveis pela empresa, que ouviram as reivundicações e devem emitir algum parecer até esta terça-feira (22), às 12h.

Esse é o segundo manifesto dos indígenas em 5 meses, em junho, os indígenas reivindicavam participação de 5% nos lucros da produção de energia, além da cessão de dois ônibus e a construção de moradias, que foram prometidas no Plano Básico de Meio Ambiente, para compensar os danos causados pela obra a cerca de 1 mil indíos da região. (mais…)

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Remoção de comunidades no Rio: Anistia Internacional alerta para violações sistemáticas dos direitos humanos

Os organizadores das Olimpíadas devem exortar as autoridades brasileiras a pôr um fim às remoções forçadas de centenas de famílias no Rio de Janeiro em meio aos preparativos para os Jogos Olímpicos de 2016, declararam na segunda-feira (14/11) grupos de moradores atingidos, ativistas locais, a Anistia Internacional e a WITNESS em uma carta conjunta ao Comitê Olímpico Internacional (COI).

Segundo as organizações, famílias em dezenas de bairros de baixa renda na cidade já perderam – ou estão sob risco de perder – suas casas à medida que as autoridades constroem infraestrutura para o evento esportivo internacional.

“Forçar famílias para fora de suas casas sem aviso adequado, sem consulta prévia com os atingidos e sem oferecer moradias alternativas adequadas ou recursos judiciais fere os valores que as Olimpíadas representam e viola as leis brasileiras e os compromissos internacionais do Brasil com os direitos humanos”, disseram as organizações. (mais…)

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“A dor da mais velha Guarani-Kaiowa” no jornalismo do “teria sido”

Eleonora Vasque, avó de Nísio, 105 anos de aldeia, antes mesmo de o município de Amambai existir. (Foto: João Garrigó)

Não é preciso ser jornalista para saber a diferença entre “afirmar” e “alegar”, entre “de acordo com” e um simples relato de um fato, entre um “foi assassinado” e um “teria sido”. Apesar de escrita assim, vale ler a matéria. Os negritos são todos meus. TP.

Paula Maciulevicius

Em meio à tensão depois de relatos de ataque ao acampamento de indígenas Guaiviry, encontrar uma senhora de 105 anos, avó de Nísio Gomes, a liderança desaparecida desde sexta-feira, é um achado.

O mais surpreendente não é nem Eleonora Vasque ter mais de um século de vida. É ela ter a idade que tem, nunca ter saído da aldeia em que nasceu, ter visto de perto as lutas pela conquista de terras e agora saber da possível execução do neto de forma covarde.

Mãe de 14 filhos, ela carrega no corpo e no rosto marcado a história da sobrevivência dos guarani-kaiowa.

O Campo Grande News foi até a aldeia Amambai em busca de relatos da vida de Nísio Gomes, líder indígena que desapareceu depois de um atentado no acampamento Guaiviry. O clima de tensão já relatado na área ultrapassa os limites entre as fazendas Querência Nativa e Ouro Verde. Medo, apreensão e angústia cercam também os moradores da aldeia. (mais…)

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Ritual de tribo brasileira é indicado a patrimônio da Unesco

Um ritual de um povo indígena brasileiro, voltado para “manter a ordem social e cósmica”, foi indicado para integrar uma lista de patrimônios culturais imateriais “em necessidade urgente de proteção” elaborada pela Unesco, a agência da ONU para a educação e a cultura.

O Yaokwa é a principal cerimônia do calendário ritual dos Enawenê-Nawê, povo indígena cujo território tradicional fica no noroeste do Mato Grosso.

O ritual, que marca o início do calendário enawenê, dura sete meses e é realizado com a saída dos homens para realizar uma pesca coletiva com o uso de uma barragem e de armadilhas construídas com cascas de árvore e cipós.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) registrou o ritual Yaokwa como bem cultural em 2010.  Segundo dados da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), o povo Enawenê-Nawê – que fala a língua aruak – é formado por cerca de 560 integrantes.

A partir desta quarta-feira, a comissão intergovernamental da Unesco pela salvaguarda do patrimônio cultural imaterial se reúne em Bali, na Indonésia, para avaliar os rituais e tradições indicados para ser protegidos.  A reunião se encerra no próximo dia 29. (mais…)

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Ministra dos Direitos Humanos visitará área onde índio desapareceu em MS

A ministra Mária do Rosário, da Secretaria dos Direitos Humanos, vem para MS após episódio envolvendo acampamento de indígenas, cujo líder está desaparecido.

Mário do Rosário deve vir amanhã para Mato Grosso do Sul, após episódio de ataque a acampamento

Marta Ferreira

A ministra Maria do Rosário Nunes, da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, virá para Mato Grosso do Sul amanhã, para visitar o acampamento Guaiviry, onde vivia o líder guarani-kaiowa Nísio Gomes, que está desaparecido desde sexta-feira. A visita foi motivada pelo relato dos acampados de que Nísio foi assassinado por um grupo de 40 pistoleiros que invadiram o local, na sexta-feira passada.

No mesmo dia, a Secretaria dos Direitos Humanos divulgou nota sobre o assunto e informou que acompanharia toda a apuração e daria apoio à comunidade indígena.

A vinda da Ministra está sendo articulada em um reunião nesta manhã em Brasília.

No domingo, os índios receberão a visita de outro representantes do Governo Federal, o secretário de Articulação Social, Paulo Maltus.  (mais…)

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Ministério do Trabalho flagra trabalho escravo em obras da construtora MRV no interior de São Paulo

Elaine Patricia Cruz, Repórter da Agência Brasil

São Paulo – A construtora MRV Engenharia poderá ser multada em até R$ 11 milhões pela utilização de trabalhadores em condição análoga à escravidão em duas obras no interior de São Paulo. As ações civis públicas foram propostas pelo Ministério Público do Trabalho, depois que fiscais flagraram a existência de trabalho escravo na construção do empreendimento residencial Beach Park, em Americana, e nas obras do condomínio Spazio Mont Vernon, em São Carlos.

Em entrevista à Agência Brasil, o procurador do Trabalho Cássio Calvilani Dalla-Déa, do Ministério Público do Trabalho em Araraquara (SP), disse que “nos dois casos, o número de irregularidades foi bem grande”.

No caso de Americana, a precarização do trabalho foi decorrente da terceirização dos serviços nas obras. Segundo o Ministério Público, a MRV utiliza-se de empreiteiras para fazer a intermediação da mão de obra e, com isso, tenta transferir a responsabilidade trabalhista às pequenas empresas. Nessa obra, o Ministério Público observou casos de operários sem receber salários, alojamentos e moradias fora do padrão legal e aliciamento de trabalhadores. Cerca de 60 trabalhadores estão nessa situação. (mais…)

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Novo diretor da Anistia Internacional no Brasil critica ausência do governo em debate da OEA sobre Belo Monte

Flávia Villela, Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – A Anistia Internacional considerou “decepcionante” a ausência do Brasil na audiência da Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), no fim de outubro, que discutiu os impactos socioambientais da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que está sendo construída no Rio Xingú, no Pará, e que deve ser a terceira maior do mundo.

Para o novo diretor regional da organização no Brasil, Atila Roque, o governo brasileiro se comportou como governos de países que violam os direitos humanos e ignoram tratados internacionais quando são contrariados. “Essa atitude não corresponde ao histórico do Brasil em relação aos organismos internacionais de direitos humanos, que sempre foi o de fortalecê-los. Esvaziar e tentar desqualificar organismos multilaterais que lançam alertas sobre assuntos ligados ao Brasil demonstram que ainda há um despreparo do país para ocupar um lugar de mais destaque porque, para se almejar um papel de peso na esfera global, é preciso estar preparado para lidar com essas situações. Espero que esse tenha sido um desvio momentâneo”.

Em abril, a Comissão de Direitos Humanos da OEA pediu a suspensão imediata da construção da usina para que as comunidades ribeirinhas e os índios da região pudessem ser ouvidos pelo Congresso Nacional, como determina a Constituição. O Brasil respondeu que os Poderes Executivo e Legislativo são os responsáveis por fiscalizar as obras de Belo Monte e que a Justiça supervisiona, de forma imparcial e independente, o respeito aos direitos humanos dessas populações. (mais…)

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