Os plantios de eucalipto da Suzano e da Margusa assim como os plantios de soja suplantaram boa parte da realidade sócio-economica e ambiental do Baixo Parnaiba maranhense. Isso é fato histórico. Isso é fator numérico expressivo num debate sobre desenvolvimento, visto que a soja, entre o final da década de 90 e o final da primeira década do século XXI, renegou sessenta mil hectares de Cerrado enquanto que os eucaliptos renegaram uns trinta mil hectares de Cerrado.
As expansões da soja e dos plantios de eucalipto enfaixaram o Baixo Parnaiba maranhense numa dimensão telúrica. Nada diverso do que ocorrera e do que ocorre em outras regiões do Cerrado brasileiro. Todavia, as análises dessas expansões, como fato histórico e como fator socioambiental, obliteraram-se no notável espaço de interpretação que se criou como uma das poucas alternativas plausíveis ao nível inclemente de conhecimento técnico-cientifico que despontou a partir da segunda guerra mundial.
A casa do professor municipal Wilson Souza, municipio de Urbano Santos, Baixo Parnaiba maranhense, sediou um bate-papo que volteava entre tiquira, farinha, eucalipto e bacuri. Um dos presentes, o sociólogo Iran Avelar escrevera algumas linhas em seu blog sobre a produção de tiquira no município de Urbano Santos. A tiquira é uma aguardente obtida a partir da mandioca. Antigamente, felicitava-se o município como maior produtor de tiquira, de farinha seca e de farinha de puba num raio de quilômetros, entrando em Morros, Icatu, Humberto de Campos, Belágua e quem mais viesse pela frente. A produção de bacuri explodia em grandes números na época da safra.
O Iran queria ouvir sobre a renda real que um agricultor de São Raimundo obterá do projeto de manejo de bacurizeiros em 0,5 hectare nos próximos anos. Qualquer dado proferido comprometeria o percurso do projeto do começo de 2010 até hoje porque no fundo a renda do agricultor é muito variável. Então, a melhor resposta para valorar a produção de agricultura familiar numa comunidade como a de São Raimundo se condensa na Chapada de 800 hectares. Sem a Chapada coberta de bacurizeiros e pequizeiros, com certeza, a renda despencaria absurdamente. A geração de renda da comunidade de São Raimundo se mimetiza tanto à Chapada que o simples calculo da produção de polpa de bacuri por safra daria pistas substanciais em quanto os agricultores estão montados.
Por hectare, conta-se 100 bacurizeiros por hectare. Um bacurizeiro que ponha muitos bacuris varia de mil a cinco mil frutos. 800 hectares de Chapada em São Raimundo somam 80.000 bacurizeiros que multiplicados por mil frutos originam 80.000.000 de bacuris. 100 bacuris fornecem 4 quilos de polpa de fruta. 80.000.000 fornecem 3.200.000 quilos de polpa. Estes multiplicados por 10 reais por quilo de polpa resultam em 32 milhões de reais. Vendo só pelo lado dos bacurizeiros a Chapada de São Raimundo guarda um valor inestimável.
Estima-se que só a comunidade de São Raimundo colete de cinco a dez toneladas de polpa de bacuri e isso proporciona uma renda variável de 100 mil reais entre os meses de janeiro a abril para quase quarenta famílias. A quantidade coletada indicaria um sub aproveitamento, mas indica também que as famílias vão devagar com andor na hora de retirar da natureza seu sustento. O bacurizeiro precisa de cuidados extremos para que se desfrute dos seus frutos por anos e anos a fio.