Em Honduras, comunidades negras realizam cumbre alternativa

No Fórum sobre Acumulação de Território, no qual participaram cerca de 600 garífunas de 46 comunidades, o principal tema era o impacto de grandes projetos de infra-estrutura, de turismo, de monocultivo de palma africana (dendê) e da criação das Cidades Modelos nas comunidades onde vive a população negra de Honduras.

Sílvia Alvarez, de La Ceiba (Honduras)

Povos garífunas de Honduras reuniram-se na cidade de La Ceiba, nos dias 19 e 20 de agosto, por ocasião do Fórum sobre Acumulação de Territórios na África e América Latina. O evento foi um contraponto à Cumbre Mundial de Afrodescendentes, financiada pelo governo de Porfírio Lobo Sosa, pela embaixada estadunidense e por organismos internacionais, realizada na mesma data e mesmo local.

Miriam Miranda, representante da Organização Fraternal Negra de Honduras (Ofraneh), denunciou que as comunidades de La Ceiba não foram convidadas pelos organizadores da Cumbre Mundial e, por isso, decidiram organizar seu próprio encontro. “Este evento está acontecendo no nosso território sem que as comunidades tenham sido convocadas a participar. Querem utilizar o povo garífuna no marco do golpe de Estado. Essa reunião tenta mostrar que está tudo tranquilo em Honduras”, protestou. Somente uma organização negra hondurenha participou da Cumbre oficial.

Os garífunas são um grupo étnico de origem africana que reside na América Central, Caribe e Estados Unidos. No Fórum sobre Acumulação de Território, no qual participaram cerca de 600 garífunas de 46 comunidades, o principal tema era o impacto de grandes projetos de infra-estrutura, de turismo, de monocultivo de palma africana (dendê) e da criação das Cidades Modelos nas comunidades onde vive a população negra de Honduras.

A exemplo de Hong Kong, uma das economias mais liberais do mundo, as cidades modelos são regiões autônomas, ou seja, terrenos onde vigoram leis independentes da legislação oficial do país, permitindo uma flexibilização para o investimento privado e estrangeiro. Em Honduras, o congresso nacional pretende aprovar uma lei que permite a criação dessas Regiões Especiais de Desenvolvimento no país. “Essa lei me parece a máxima expressão da perda da nossa soberania”, afirmou Miriam Miranda. Uma das cidades modelos está prevista para ser construída na região de Trujillo, afetando 20 comunidades garífunas.

Ao som de tambores e de canções em sua língua de origem, os afrodescendentes marcharam pelas ruas de La Ceiba, na manhã do dia 20, protestando contra os vários tipos de acumulação de território e expulsão de comunidades em Honduras.

Saúde da população garífuna

Uma reivindicação que constou na Declaração Final do Fórum foi a incorporação do Hospital Popular Garífuna de Honduras à rede de serviço de saúde nacional. Atualmente, o Hospital – criado em 2008 por médicos afrodescendentes formados em Cuba – não é reconhecido pelo Estado, logo não recebe investimentos públicos.

Luther Castillo, médico garífuna, explica que este hospital aplica um conceito “bio-sócio-cultu-espiritual” de saúde. “Não visualizamos o paciente somente como um componente biológico, senão como um ser pensante, impactado por um ambiente, uma cultura, uma religião. Levamos tudo isso em conta no diagnóstico e no tratamento”.

Segundo Luther, o primeiro médico garífuna graduou-se na faculdade de medicina da Universidade Autônoma de Honduras depois de 118 de sua fundação. “E esperamos 214 anos para ter o primeiro hospital de garífunas. Não queremos mais esperar para sermos reconhecidos”, protestou.

http://brasildefato.com.br/node/7207

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