“A contaminação veste a moda: os vínculos entre as marcas de indumentária e a contaminação do Riachuelo”. Esse é o título de recente relatório produzido pelo Greenpeace da Argentina e que já gerou polêmica entre a organização ambientalista e a Câmara Industrial das Manufaturas do Couro e Afins (Cima) da Argentina.
Divulgado no início deste mês, o relatório do Greenpeace alerta para a relação entre o curtume e a contaminação do Riachuelo. “Se bem que o setor dos curtumes foi apontado como o setor de maior impacto ambiental, ainda durante 2011 seguem contaminando os cursos de água do Riachuelo. Greenpeace tomou amostras de diferentes esgotos provenientes de curtumes, cujos resultados em todos os casos excederam os limites para verter”, apresenta.
É o setor de curtumes que transforma a pele dos animais em couro para ser utilizado pela indústria. A atividade, segundo a organização ambientalista, é “quimicamente muito intensiva”. De acordo com o relatório do Greenpeace, são necessários cerca de 500 quilos de produtos químicos para processar uma tonelada de couro cru, dos quais 85% não se incorporam no couro pronto. Com base em informações da Secretaria de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Nação (SAyDS), o relatório mostra que o setor de curtume é responsável por mais de 50% dos contaminantes de origem industrial.
O informe ainda revela que a Autoridade da Bacia Matanza Riachuelo (Acumar, por sua sigla em espanhol) afirmou que existem 61 curtumes declarados como agentes contaminantes. Desses, vários são fornecedores de couros para marcas de calçados e acessórios em couro da Argentina.
Greenpeace cita os curtumes La Teresa, La Hispano, Arangio, Américo Gaita, Ángel Giordano, Sadesa como exemplos de locais que contaminam o Riachuelo. Tais curtumes são fornecedores de produtos para marcas como: Ricky Sarkany, Grimoldi e Prüne.
Para a organização ambientalista, é importante que o produtor tome conhecimento e se responsabilize por todo o processo de fabricação, desde o início. “As empresas que pretendem assumir a responsabilidade de seus produtos devem considerar todo o ciclo de vida dos mesmos, em tal sentido, devem contemplar o uso e as emissões de substâncias perigosas e contaminantes em cada uma das etapas de produção, distribuição e consumo. O processo de manufatura é a parte mais importante deste ciclo de vida, portanto, é inaceitável que não se contemplem as emissões de substâncias perigosas ao ambiente durante a fabricação dos produtos”, destaca.
Resposta
A denúncia do Greenpeace não ficou sem resposta das empresas que atuam no ramo de couro no país. Na última quarta-feira (17), a Câmara Industrial das Manufaturas do Couro e Afins (Cima) divulgou uma nota em que rechaça a ação do Greenpeace de responsabilizar as empresas pela contaminação do Riachuelo por serem clientes dos curtumes contaminantes.
Raúl Zylbersztein, presidente da Cima, em declarações à imprensa, chamou atenção para o fato de a denúncia só atacar “os curtumes de capital nacional e que vendem no mercado local, excluindo os [curtumes] estrangeiros ou os que só exportam couros com processos primários e têm, pelo menos, os mesmos problemas ambientais”.
A resposta de Greenpeace se deu no dia seguinte (18), ao informar que a organização, a nível internacional, promove denúncias contra empresas multinacionais que têm relações com fornecedores que despejam substâncias tóxicas nas águas. “À diferença da repressão que Cima realiza sobre nossas atividades, as multinacionais Nike e Puma, após serem denunciadas publicamente, reconheceram sua responsabilidade e se colocaram a disposição, assumindo o compromisso de eliminar as substâncias tóxicas ao longo de sua cadeia de fornecedores”, rebateu Consuelo Bilbao, coordenadora da Campanha Riachuelo do Greenpeace.
O relatório completo está disponível em: http://www.greenpeace.org/argentina/es/informes/La-contaminacion-viste-a-la-moda/
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=59461
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