Matheus Pichonelli
Distraído com o fone colado ao ouvido, não percebi que a abordagem, logo à saída da estação Brigadeiro do Metrô, era, na verdade, um assalto. O menino, de não mais de doze anos, acabava de colar em mim com uma garrafa de vidro quebrada. Com mãos ágeis que se multiplicavam, conferiu tudo o que eu tinha no bolso, enquanto outro, mais velho, fazia a cobertura em caso de reação. Foi quando o garoto encontrou, no bolso da frente, um aparelho de MP3, esticou o fio e arrancou.
Atordoado, estiquei a mão para a primeira viatura que apareceu. O soldado pediu que eu entrasse no banco de trás. Rodamos por cerca de dez minutos pela região, e mais lentamente por uma travessa da Paulista onde os meninos costumavam dormir. Ao vê-los, o policial perguntou: “são estes?” Tive quase certeza de que eram do mesmo grupo dos meninos que acabavam de me abordar.
“Não”, falei, àquela altura mais calmo, e já pensando que um aparelho de MP3 não me valia a culpa que poderia carregar por ter jogado o menino aos leões. Os policiais, mais que educados comigo, pareciam sedentos para pegar os meninos que há muito causavam transtornos, segundo eles, naquela região. Só a lei os impedia… (mais…)