Briga por comida acaba com sete mortos na Somália, e Unicef faz novo alerta sobre crise alimentar no país

Mulheres e crianças fazem fila por comida na capital somali de Mogadíscio/Reuters

NAIRÓBI – No mesmo dia em que a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) divulgou uma relatório dizendo que metade das crianças somalis que chegam ao Quênia está subnutrida, relatos de selvageria surgiram na capital Mogadíscio. Segundo testemunhas, uma briga por comida entre soldados e civis acabou com sete mortos.

Segundo relatos, os soldados tentaram, primeiro, roubar partes das 290 toneladas de comida que estavam sendo distribuídas pela ONU aos civis. A população tentou reagir e os soldados revidaram com disparos.

– Foi uma carnificina. Eles atiraram impiedosamente nas pessoas e deixaram os mortos largados no chão. Alguns feridos sangraram até morrer – contou Abdi Awale Nor, que vive no campo em Mogadíscio.

David Orr, porta-voz do Programa Mundial de Comida, disse que a distribuição de alimentos começou sem incidentes às 6h, mas, em poucas horas, o caos começou.

– Recebemos relatos de confusão. Os esmagados por uma multidão de pessoas, e nossa equipe ouviu disparos – disse Orr, sem confirmar mortos.

Ainda nesta sexta-feira, a Unicef fez um novo alerta sobre a crise alimentar na Somália. Segundo relatório divulgado, quase metade das crianças somalis que fogem do país e conseguem chegar aos campos de refugiados no Quênia está subnutrida.

Segundo a Unicef, 1,3 milhão de somalis chega por dia aos acampamentos de al-Dadaab, maior campo de refugiados do mundo, dos quais 80% são mulheres e crianças. O campo, criado há 20 anos para abrigar 90 mil pessoas, acomoda hoje mais de 350 mil vindos da guerra e da seca na Somália.

“Quase metade das crianças que chegam aos campos desde o sul da Somália está desnutrida”, assinala a agência da ONU, em comunicado oficial, alertando também para o caso de mortes no meio do trajeto para o Quênia.

Segundo o coordenador de emergências do Unicef em al-Dadaab, Ibrahim Conteh, é preciso adotar medidas agora já que doenças, como sarampo e poliomielite, cujas chance de propagação aumentam em quadros de subnutrição, podem se propagar rapidamente em condições de superpopulação”.

O Chifre da África, região ao leste do continente, enfrenta a pior seca dos últimos 60 anos, o que, junto com a guerra civil, teria aprofundado a crise alimentar na Somália. Neste semana, a ONU elevou de dois para cinco as regiões de fome no país, incluindo a capital Mogadíscio.

Segundo a ONU, a seca e a fome no Chifre da África colocaram a mais de 11 milhões de pessoas em uma situação humanitária crítica, especialmente na Somália, onde cinco regiões foram declaradas oficialmente em estado de crise de fome.

http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/08/05/briga-por-comida-acaba-com-sete-mortos-na-somalia-unicef-faz-novo-alerta-sobre-crise-alimentar-no-pais-925070446.asp

 

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