Sergio Pena fala sobre a genética do povo brasileiro

O geneticista Sergio Danilo Pena, da UFMG

“No Brasil, não se pode prever individualmente a cor das pessoas a partir de sua ancestralidade genômica, nem o contrário. Os brasileiros devem ser avaliados numa base individual como 190 milhões de seres humanos, e não como membros de grupos de cores.”

A afirmação é do geneticista Sérgio Danilo Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que fará a conferência “Estrutura e Formação Genética do Povo Brasileiro” no dia 11 de agosto, às 17h, no Auditório do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.

A conferência integra o Ciclo Ciência Avançada, comemorativo dos 25 anos do IEA e do qual já participaram o neurocientista Miguel Nicolelis, o astrofísico João Steiner e a linguista Eleonora Cavalcante Albano.

Pena chama de “ancestroma brasileiro” a totalidade das características genéticas das três principais populações constituintes do povo brasileiro: ameríndios, europeus e africanos. Na conferência, explicará o uso de diferentes ferramentas moleculares para caracterizar tal ancestroma.

Segundo ele, estudos iniciais com marcadores de cromossomo Y e DNA mitocondrial mostraram um padrão de elevados níveis de mistura genética de reprodução direcional entre homens europeus e mulheres ameríndias e africanas. “Em seguida, analisados diferentes tipos de polimorfismos genômicos correlacionando ancestralidade e cor nos brasileiros, esses marcadores confirmaram níveis extensos de mistura genômica, mas também
evidenciaram uma forte marca da onda maciça de imigração europeia nos séculos 19 e 20.”

De acordo com Pena, a alta variabilidade individual observada sugere que cada brasileiro tem uma proporção singular das ancestralidades ameríndia, europeia e africana em seu genoma.

Médico formado pela Faculdade de Medicina da UFMG, Pena fez o doutorado no Departamento de Genética Humana da Universidade de Manitoba, Canadá, e o pós-doutorado no Instituto Nacional de Pesquisa Médica em Mill Hill, Londres, Reino Unido. Atualmente é professor titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia e diretor do Laboratório de Genômica Clínica da
UFMG. É também diretor científico do Gene — Núcleo de Genética Médica de
Minas Gerais e da Gene-Genealógica Central de GenoTipagem de Animais.

Membro titular da Academia Brasileira de Ciências e da Academy of Sciences
of the Developing World (TWAS), Pena presidiu a Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular, o Programa Latino-Americano do Genoma Humano e o Comitê Sul-Americano do Projeto de Diversidade Genômica Humana.

A ênfase em seu trabalho é em genética humana e médica, atuando principalmente em diversidade genômica e evolução humana, formação e estrutura da população brasileira, estrutura populacional do Trypanosoma cruzi (parasita causador da doença de Chagas),  desenvolvimento de testes baseados na PCR (reação em cadeia da polimerase) para diagnóstico de doenças humanas e aplicação da genômica de nova geração em medicina clínica.

Local: Auditório Luiz Rachid Trabulsi, ICB-USP, Av. Prof. Lineu Prestes, 2.415, Cidade Universitária, São Paulo.
Transmissão: ao vivo pela internet em www.iptv.usp.br.
Informações: com Sandra Sedini ([email protected]), telefone (11) 3091-1678.

 

Comments (4)

  1. Os Berberes da África são Caucasianos. São considerados Europeus? Os Mouros, miscigenação de Berberes com Árabes, são considerados Europeus? Os Mamelucos, miscigenação de Mongóis com Árabes, são considerados Europeus? Os Judeus são considerados Europeus? Os Árabes?
    Qual é a cientificidade da abusiva generalização desta Genética?
    Racismo?

  2. Ok. Então todos os casamentos entre índias e negras casadas com europeus que abundam na região norte, casaram na marra. E a cultura de clarear a raça não conta?

  3. Que bom que veio esta tua resposta, Ricardo! Porque confesso que postei esta matéria mais como provocação que qualquer outra coisa, para ver se e como as pessoas reagiriam. Valeu!

  4. Danilo Pena disse: “estudos iniciais com marcadores de cromossomo Y e DNA mitocondrial mostraram um padrão de elevados níveis de mistura genética de reprodução direcional entre homens europeus e mulheres ameríndias e africanas”.

    Como isso não faz parte do horizonte dele, faltou dizer que a maioria destas mulheres foram estupradas pelos colonizadores europeus. E que de seus filhos bastardos, igualmente tratados e comercializados como escravos pelo pai colonizador, ainda hoje, mais de 500 anos depois de quando esse processo se iniciou, descendem os milhões de brasileiros excluídos e marginalizados nas periferias dos subsequentes sistemas de exploração de sua força de trabalho.

    Semelhantes geneticamente, sim. Mas, profundamente desiguais política, econômica e socialmente. Então tratar todos como iguais nada mais é que outra forma de perpetuar e até aprofundar esta exploração histórica.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.