Mapuches em greve de fome já sofrem danos irreversíveis

A greve de fome líquida e a perda de mais de 20 quilos de peso já teriam provocado danos irreversíveis na saúde dos quatro mapuches chilenos presos que iniciaram a medida de força há 85 dias. Sua reivindicação é a anulação do processo em que foram condenados por roubo com intimidação e lesões menores. “A falta de nutrientes deve ter provocado dano cerebral”, apontou o médico Juan Carlos Reinao, que os examina desde que os mapuches começaram a greve. Contudo, serão realimentados nos postos de saúde onde permanecem internados. Segundo Reinao, o sistema de saúde estatal interpôs um recurso com este objetivo na Corte de Apelações do Chile e que foi aceito. A reportagem é de Ailín Bullentini e está publicada no jornal Página/12, 09-06-2011. A tradução é do Cepat.

“A gravidade é grande. Sofrem de desnutrição severa, desidratação no limite e estado geral grave. Os mais de 20 quilos que cada um perdeu na greve provocaram também diminuição no nível de concentração”, explicou o médico. Seu trabalho no monitoramento da saúde de Ramón LlanquileoJonathan HuillicalJosé HuenucheHéctor Llaitul começou no primeiro dia de greve e se deveu à exigência das famílias dos prisioneiros, que consideraram necessário que um profissional que não fosse da Gendarmería cuidasse da saúde dos mapuches.

Até esta quarta-feira, os quatro estavam internados no Hospital Victoria. Diante da gravidade, as autoridades sanitárias decidiram transferi-los para os centros assistenciais Concepción, Los Angeles e Nuevo Imperial, todos situados no sul do país, um movimento que teve a resistência dos prisioneiros e familiares. “Tendo os instrumentos para poder controlar sua saúde em um único equipamento, decidiram transferi-los unilateralmente. A transferência é perigosa, não estavam em condições de suportar as três horas de viagem que separa um hospital de outro”, denunciou a porta-voz das famílias dos mapuches, Natividad Llanquileo.

As famílias souberam da transferência enquanto aguardavam o horário de visita. O tumulto que se originou forçou efetivos da Gendarmería a dar explicações: “A decisão é exclusivamente por prescrição médica”, esboçou o diretor regional da força, David Espinoza.

“Querem forçá-los a comer”, denunciou, por sua vez, a mãe de José HuenucheJuana Raimón. “Tiraram meu filho estando muito mal, jogaram-no numa ambulância”, acrescentou. Segundo informou Reinao, o sistema de saúde do Chile apresentou um recurso de amparo na Câmara de Apelações nacional para iniciar a realimentação dos grevistas apesar de sua recusa, o que a Justiça aceitou. Embora não tenha falado oficialmente sobre o tema, o governo havia expressado anteriormente que tomaria todas as medidas possíveis para evitar a morte dos ‘comuneros’, inclusive sua alimentação forçada.

O médico advertiu sobre os possíveis efeitos negativos que a realimentação acarretaria sem a realização prévia de exames gerais da saúde dos indígenas condenados. “Os manifestantes não querem se submeter a exames médicos por não contarem com garantias sobre a certeza dos resultados. Sem esses estudos, a realimentação poderia provocar a falência de órgãos e desencadear um desenlace fatal”, apontou.

Os ‘comuneros’ foram condenados em março a até 25 anos de prisão por tentativa de homicídio de um fiscal e roubo com intimidação. Enquanto começaram a greve, seus familiares pediram formalmente a nulidade na Corte Suprema do Chile. O máximo tribunal decidiu indeferir a tentativa de homicídio, razão pela qual as penas foram reduzidas. Os mapuches consideram que no processo judicial se aplicou a lei antiterrorista: “Houve testemunhas secretas e pessoas que testemunharam sob tortura”, expressou a porta-voz.

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