Assentados do Pará relatam medo e evitam sair de casa

O lavrador Manoel Santos Silva parou ontem sua canoa na lagoa em frente à casa do agricultor José Martins, no assentamento agroextrativista de Nova Ipixuna (sudoeste do Pará) onde três pessoas foram assassinadas em menos de uma semana. A reportagem é de Fábio Guibu e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 01-06-2011.

Ele desceu do barco para comprar a farinha fabricada pelo vizinho, mas não encontrou ninguém lá. Martins correu antes para se esconder no meio da floresta.

Ameaçado de morte por grileiros que incendiaram sua casa, o colono deixou para trás panela no fogão de lenha e mandiocas descascadas no chão de terra batida.

“Ele está assombrado, como todo mundo no assentamento”, disse Silva, referindo-se ao medo que tomou conta do lugar após a morte dos líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, e do agricultor Eremilton Pereira dos Santos.

No local, 366 famílias vivem espalhadas em 22 mil hectares. As glebas são intercaladas por pastagens, lagoas e manchas da floresta amazônica. O acesso pela estrada de terra esburacada que corta a região é difícil.

Os assentados estão quase enclausurados. Os poucos bares estão fechados e muitas crianças deixaram de ir à aula. Várias famílias abandonaram as casas.

“Existe um clima de incerteza”, disse Claudelice Silva dos Santos, 29, irmã de José Cláudio. “Diante disso, nossas famílias acharam por bem sair.” Quem ficou tenta reforçar a segurança.

Além de criar rotas de fuga na floresta, muitos juntaram os parentes em uma só moradia, como o casal de trabalhadores rurais Francisco dos Santos da Silva, 31, e Adriana Almeida Santos, 25, e os quatro filhos.

A família mora a cerca de 300 metros do local onde Eremilton foi assassinado. Após a morte do colono, todos foram para a casa da mãe de Francisco. “A gente não sai”, disse Adriana.

Picapes da Polícia Federal circulam pelo assentamento e helicópteros sobrevoam a região. Fiscais do Ibama rondam as glebas em busca de madeireiros e carvoeiros.

Para Luiz dos Santos Monteiro, um dos cunhados do líder extrativista morto, o clima de terror só vai terminar quando os mandantes dos crimes forem presos.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=43861

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