A mídia no Brasil reforça o preconceito contra os índios. Se em relação ao povo negro esse preconceito persiste, quanto aos índios ele é até maior. As diferenças culturais apresentadas por cada uma das distintas sociedades indígenas são tratadas com indiferença e sarcasmo. As reivindicações indígenas são invisibilizadas e os conflitos interpretados ao sabor do preconceito reinante.
Há pouco, uma reportagem, TV Record, sobre um suposto “infanticídio” indígena, a partir dos intérpretes evangélicos. Agora, a nível local, as manchetes anunciam prisões de índios da nação Guajajara, relacionando o fato com o bloqueio da BR 226. Tudo meia verdade.
O suposto “infanticídio” indígena (o tipo penal não se aplica ao caso) exige muito mais do que a crença na fé cristã, para ser compreendido, além de não ser um fenômeno presenciado na maioria esmagadora das etnias. Os mandados de prisão estão relacionados a um represamento no cumprimento de decisões judiciais de quase dois anos atrás. Referem-se a delitos praticados por índios e não-índios, nas imediações da BR, que não têm nada a ver com o bloqueio. Furto, assalto, homicídio, tráfico.
A paralisia está relacionada ao bate-cabeça do sistema de segurança, que se debatia quanto à competência do órgão de polícia para cumprir os mandados.
Os bloqueios estão relacionados à política indigenista, implementada pelo Estado brasileiro. Ocorrem quando não cumpridos acordos ou obrigações relacionadas ao Poder Público. Os Guajajaras são complexos, porque inteligentes, desenvolveram rapidamente características do modo de fazer política dos não-índios circundantes. Eles são cooptados por autoridades, mas sabem fazer o jogo do assistencialismo.
Se o esquema for desvio de recursos, rapidamente organizam seus próprios mecanismos para abocanhar algumas fatias. Treze milhões para o transporte indígena daria para construir quantas escolas, dentro das aldeias? Existem índios que são proprietários dos veículos ou parentes de proprietários.
Quantos não-índios, casados com índias Guajajaras, emergem como lideranças nas aldeias, para negociar a liberação de recursos, muito pouco socializados com os “parentes”?
Sabe-se que o grande problema do povo Guajajara foi o encontro com o álcool. Suas mazelas estão relacionadas ao aprendizado com o não-índio. O branco corrompe e depois acusa! Quantos não estão presos, na unidades prisionais e delegacias? A FUNAI foi praticamente desativada no Maranhão. Seus procuradores não assistem mais juridicamente os índios. A AGU se recusa a fazer isso.
Eu me deparei recentemente com um Guajajara, preso. Ele simplesmente é acusado de liderar a chacina dos dezoito. Teve seu primeiro contato com a chamada “civilização” aos dezenove anos. Olhava firme para mim, sua boca escondia a verdade que transparecia nos olhos. Dez anos de cadeia e agora mais outros tantos, certamente. Seu irmão estava preso também, até pouco tempo atrás.
Em resumo, apesar da festa anunciada em grandes manchetes dos nossos jornalecos, essas prisões não resolverão o problema. E não adiantar demonizar o índio. Não adianta conduzir o raciocínio do povo para a necessidade de criação de presídios indígenas, para esconder o problema de fundo. Também não adianta adornar as nossas preconceituosas cidades do interior com motivos e símbolos indígenas, para fazer de conta que eles são aceitos.
Eles são a nossa cara. Eles eram os donos dessas terras, que foram invadidas e esbulhadas. Não é o índio que está no lugar errado. Eles sempre estiveram lá, quando as cidades se impuseram pela força. Em movimentos espasmódicos somos chamados a prestar conta.
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conversando e esplicar: que os indios são pessoas normas mas tem outro geito de viver