“Provavelmente a recém eleita presidente do país, Dilma, herdará uma pedra no sapato – a não demarcação e garantia das terras dos Kaiowá Guarani, no Mato Grosso do Sul. É bom, que ao pensar a transição (continuidade) a equipe não se esqueça dessa agenda, que via de regra fica para o final da fila, depois de contemplar todos os interesses envolvidos na composição do poder”, escreve Egon Heck, coordenador do CIMI-MS, analisano a eleição de Dilma Rousseff a partir do ponto de vista dos povos Kaiowá Guarani. Eis o artigo.
Passados os dias da ressaca, dos santos e dos mortos, um feriadão inesquecível, voltemos aos primeiros habitantes dessa Terra de Santa Cruz. Para boa parte deles todos esses rituais pouco significaram. O gesto maior de cidadania e democracia que foi apertar dois numerinhos, talvez foi apenas depositar uma vez mais um voto de esperança. Mas houve também comemorações. Altas horas da noite. Toca do telefone “Estamos comemorando a vitória da Dilma aqui na aldeia de Paraguasu”, diz uma liderança Guarani. Fico até surpreso com a notícia, e ainda meio sonâmbulo, os felicito pelo gesto. Felicito-os, pois a cada eleição reciclam a esperança e muitas vezes amargam depois decepções. E ele dá as razões da festa “pobre vota em pobre”.
Vou conversar com Anastácio Guarani Kaiowá, que teve a honra de conversar algumas vezes com o presidente Lula e alertá-lo da grave situação por que passa seu povo por causa da não demarcação das terras. “Espero que Dilma, enquanto mulher, mãe e presidente seja sensível à causa dos povos indígenas, e tenha especial consideração com a difícil situação do grande povo Guarani e cumpra a Constituição, demarcando todas as terras indígenas e os demais direitos que aí temos garantidos. Com uma pitadinha de ironia e desconfiança arrisca uma sugestão “a senhora como ministra foi mãe do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e agora como presidente poderia ser poderá ter a histórica iniciativa do “programa de aceleração da demarcação das terras Guarani- PAG”.
Pedra no sapato
Provavelmente a recém eleita presidente do país, Dilma, herdará uma pedra no sapato – a não demarcação e garantia das terras dos Kaiowá Guarani, no Mato Grosso do Sul. É bom, que ao pensar a transição (continuidade) a equipe não se esqueça dessa agenda, que via de regra fica para o final da fila, depois de contemplar todos os interesses envolvidos na composição do poder.
O presidente Lula tem menos de dois meses para diminuir sua dívida histórica com o grande povo Guarani, fazendo avançar os processos de identificação e regularização das terras. O que Lula não conseguir fazer em oito anos, espera-se que Dilma faça nos primeiros anos de governo. Os Kaiowá Guarani tem uma paciência secular, mas não é infinita. E chegou ao limite.
Os Guarani, comemoraram com os milhões de brasileiros e pessoas no mundo inteiro, especialmente na America Latina, a sua vitória presidente Dilma. Especialmente os pobres e empobrecidos desse pais, os expulsos das terras, os sem terra, os índios,os quilombolas e os excluídos de uma maneira geral, esperam ter seus direitos respeitados e sua vida e dignidade asseguradas.
Egon Heck
Povo Guarani, Grande Povo
Dourados, 3 de novembro de 2010
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