Inquérito de Víctor Jara, no Chile, é travado

A Câmara de Apelações ratificou a determinação do juiz Eduardo Fuentes Belmar, que negou aos querelantes a realização de determinados procedimentos para incriminar os oficiais suspeitos do assassinato do cantor.

A Justiça chilena rechaçou diligências para identificar os responsáveis pelo sequestro e assassinato do cantor Víctor Jara. Esta decisão da Corte de Apelações de Santiago poderia facilitar o arquivamento do processo, que até agora só tem um indiciado.

A sentença da Câmara de Apelações ratificou a determinação do juiz Eduardo Fuentes Belmar, que negou aos querelantes a realização de acareações e outros procedimentos para incriminar os oficiais do Exército chileno que faziam revistas no Estadio Nacional, onde esteve sequestrado e foi assassinado o autor de Te recuerdo Amanda. “São aproximadamente dez os suspeitos”, explicou a este jornal Cristian Cruz, advogado do Programa de Direitos Humanos do Ministério do Interior chileno.

O inquérito pelo assassinato de Jara foi reaberto há pouco mais de um ano. Em maio do ano passado, o ex-conscrito José Paredes Márquez se apresentou à Justiça e relatou como deram 44 tiros no cantor.

Em 15 de setembro de 1973, Paredes montava guarda. Perto da meia-noite, trouxeram 15 presos, entre os quais estava o autor de Plegaria de un labrador. Um subtenente jogou roleta russa na têmpora de Jara e o assassinou. O folclorista caiu no chão e o oficial ordenou aos conscritos que o matassem. Depois, o subtenente ordenou que retirassem o corpo do músico. Os outros 14 presos também foram assassinados. Em sua declaração, Paredes acrescentou que na execução participou Edwin Dimter Bianchi, um oficial bruto apelidado de Príncipe.

O pedido dos advogados consistia em que os juízes cruzassem esses dados e façam acareações que permitam identificar os mandantes do assassinato de Jara e os executores. Os querelantes apelaram seis vezes da decisão do juiz Fuentes Belmar, mas não obtiveram êxito em sua demanda, e Paredes, um ex-conscrito, segue sendo o único acusado pelo cruel homicídio de Jara. “Aqui há outros culpados. São pessoas que mandaram atirar e torturar”, disse, em 2009, Joan Jara, a viúva do cantor, cujo funeral público foi realizado apenas no final do ano passado.

“O processo de Víctor Jara foi recusado mais de uma vez pela justiça”, destacou Alicia Lira, presidenta da Agrupação de Familiares de Executados Políticos (AFEP). A líder do organismo de direitos humanos se queixou da ineficiência do magistrado responsável pelo inquérito. “Exerce a cumplicidade para atrasar o processo”, disparou Lira, que não descartou que os familiares de Jara entrem com alguma medida para afastar Fuentes Belmar do caso.

O Programa de Direitos Humanos do Ministério do Interior está avaliando os passos a serem seguido. Cruz teme que esta sentença abra caminho para o arquivamento do inquérito. “Agora tudo depende do tribunal, o mesmo que já arquivou uma vez a investigação, sem resultados”, se queixou o advogado. “Devemos perseverar na busca dos responsáveis seja como for, porque um conscrito não se mandou sozinho”, acrescentou.

“Com esta causa está acontecendo a mesma coisa que aconteceu com todos os casos de direitos humanos na região, que estão há mais de 30 anos esperando justiça”, disse Cruz. O advogado se somou às críticas de várias organizações, porque menos de 70 repressores estão presos. Os que estão cumprindo efetivamente suas condenações gozam de condições de reclusão privilegiada, de acordo com denúncias da AFEP e de outros defensores dos direitos humanos.

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