Reportagem especial de Andreh Jonathas – “A Disputa por Terra no Ceará” – 1 e 2

“Índio quer terra!”

Onde estão as terras dos índios no Ceará? Essa é uma indagação que está longe de ter uma resposta definitiva e que tem provocado questionamentos em terrenos cobiçados no Ceará

Andreh Jonathas – 19/06/2010

São, às vezes, de pele e olhos claros. Assistem TV e usam roupa de marca. Parecem “homem branco”, mas se auto-identificam índios. Por diversos motivos históricos, a aparência, a cultura e o modo de se vestir desses indivíduos não são os mesmos de séculos atrás no Brasil. O que permanece e, ao mesmo tempo, passa por um momento de resgate, é a forte relação com o meio ambiente – a terra ou o mar.

Apesar da aculturação, comunidades nativas cearenses se revelam e travam batalhas judiciais em busca de áreas, com o argumento de serem espaços indígenas. São espaços cobiçados, locais atrativos e propícios para instalação de empreendimentos.

“As terras indígenas estão localizadas nas melhores áreas do Estado. Tem muita água, muita fruta, são os lugares mais bonitos”, comenta Maria Amélia Leite, missionária da etnia Tremembé. Ela afirma haver mais de quatrocentos projetos, públicos ou privados, em áreas indígenas no Brasil.

As disputas mais delicadas travadas no Estado atualmente são entre a empresa Ducoco Alimentos e os Tremembés de Almofala, em Itarema; e entre o Governo do Estado e os Anacés, em São Gonçalo do Amarante e Caucaia.

O primeiro está relacionado à produção de coco, iniciada na década de 1980 em uma área que a comunidade reivindica. O segundo é mais recente e diz respeito à instalação da Refinaria Premium II, da Petrobras.

ReconhecimentoConforme a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Ceará possui uma população de cerca de 22,4 mil índios. São nove etnias reconhecidas pelo órgão: Anacé, Tremembé, Jenipapo-Kanidé, Potiguara, Pitaguari, Tapeba, Kariri, Tabajara e Kalabaça. Além disso, há nove terras indígenas reconhecidas oficialmente, em fases diferentes do processo de demarcação.

A reportagem especial “A Disputa por Terra no Ceará” mostra os processos de ressurgimento de comunidades que se autoafirmam indígenas em busca de seus direitos.

As disputas por terra envolvem grandes empreendimentos e o poder econômico, o que torna a solução dos problemas mais demorada e tensa.

http://opovo.uol.com.br/app/o-povo/economia/2010/06/19/Internaeconomia,2011887/indio-quer-terra.shtml

“Queixa de pesca predatória”

Os Tremembés têm uma relação forte com o mar. Muitos da Praia de Almofala sobrevivem da pesca. Mas o mar, que era exclusivo dos pequenos pescadores está sendo alvo da pesca predatória de lagosta.

O POVO entrevistou um condutor de barco que leva pescadores irregulares. A reportagem optou por manter a identidade em sigilo.

“O Ibama perturba direto atrás de licença, reclama da pesca da lagosta pequena e de pescador sem documento”, admite.

“Era pra chegar um deputado, conversar com o pessoal, dá licença para quem não tem, dá manzuá para o pessoal trabalhar”, cobra.

Prejudicado com a pesca irregular, o tremembé Ivo Barbosa da Costa, 43, o Caíco, reclama.

“Não sou empregado de ninguém e nunca pesquei em barco”, disse, mostrando o documento da canoa e o registro de pescados.

Caíco afirma que a lagosta está escassa em função da atividade predatória.

Conforme o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama), só é permitido pescar o crustáceo com barco a partir de 4 metros e com manzuá. (AJ)

http://opovo.uol.com.br/app/o-povo/economia/2010/06/19/Internaeconomia,2011900/queixa-de-pesca-predatoria.shtml

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