Ainda de acordo com Sakamoto, muitas vezes a população desconhece que consome produtos obtidos a partir de exploração do trabalho. “Claro que o número de fazendas que usam trabalho escravo é pequeno em relação ao número total de propriedades, mas é por isso que a gente acha que é possível erradicar como, por exemplo, trazer o setor privado para cada vez mais contribuir com isso”, afirmou durante o Encontro Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo
Sakamoto disse ainda que o trabalho escravo contemporâneo tem como base três aspectos: impunidade, ganância e pobreza. Contudo, ele acredita que é possível mudar essa realidade. “Tem que aumentar as condenações por trabalho escravo, aumentar as indenizações que já são milionárias, as empresas, que já vem dando o exemplo de combate ao trabalho escravo, rompendo com cadeias produtivas”, disse.
Outro ponto mencionado por Sakamoto para a redução do trabalho escravo é a reforma agrária, que teria o papel de redistribuir terras para que as pessoas não precisem migrar para outros estados em busca de trabalho. Além disso, a reforma agrária poderia garantir que os trabalhadores tenham uma produção própria ou mesmo em cooperativas, o que poderia romper com um ciclo de pobreza que leva o trabalhador a se submeter a um regime de trabalho análogo ao de escravidão.
Perguntado se a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata do trabalho escravo poderia contribuir para inibir a prática, Sakamoto disse que ela poderia significar uma “segunda Lei Áurea”.
“A aprovação da PEC [do Trabalho Escravo] pode ser considerada uma segunda Lei Áurea porque deixa claro para todo mundo que se quiser usar esse tipo de exploração do ser humano vai ter que contar com a possibilidade de perda da terra, com a perda do local de exploração. No Brasil a Constituição Federal é clara quando diz que toda propriedade deve ter função social ”, considerou.
O Encontro Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, ocorre no auditório da Procuradoria-Geral da República, termina hoje (27).
Reportagem de Roberta Lopes, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 27/05/2010
http://www.ecodebate.com.br/2010/05/27/especialista-defende-engajamento-de-empresas-e-consumidores-na-luta-contra-o-trabalho-escravo/