Reunida com representantes de pelo menos 10 movimentos sociais e entidades de Mato Grosso, a relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Formas Contemporâneas de Escravidão no Conselho de Direitos Humanos da instituição, Gulnara Shahinian, teve a oportunidade ontem de ouvir, dos próprios atingidos, relatos de sofrimento e submissão de trabalhadores vítimas de situações degradantes no Estado.
A representante internacional passou a manhã no Centro Burnier Fé e Justiça, em Cuiabá, reunida com as lideranças dos movimentos. Eles responderam a questões importantes para o documento que será elaborado por Gulnara para ser entregue à ONU após o fim da viagem pelo Brasil.
Dentre as informações prestadas, os participantes apontaram quem são os opressores e mantenedores do trabalho escravo em Mato Grosso, assim como os agressores, os responsáveis pelas ameaças e de atentar contra a vida de quem foge de situações degradantes ou quem atua no combate.
A reunião foi a portas fechadas, assim como seu encontro com o governador do Estado, Silval Barbosa, no dia anterior. Conforme a relatora, ela não pode divulgar informações preliminares levantadas no Estado antes que conclua o relatório a ser apresentado à ONU. Gulnara está acompanhada de duas intérpretes e uma secretária e sua segurança é feita por quatro pessoas.
Participaram da reunião na manhã de ontem o Movimento dos Trabalhadores Sem-terra, a Pastoral do Migrante, o Centro de Direitos Humanos Henrique Trindade – cujas atividades estão sendo retomadas -, o Centro de Estudos Bíblicos, o Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Central Única dos Trabalhadores, o Conselho Indigenista Missionário, o Sindicato dos Trabalhadores das Escolas Públicas de Mato Grosso e a Universidade Federal de Mato Grosso. À tarde, Gulnara visitaria a Pastoral do Migrante, que dá apoio a pessoas resgatadas do trabalho análogo ao escravo. De lá, embarcaria para o Maranhão.
Informações acerca do trabalho infantil também foram coletadas no Estado pela relatora especial. Sobre a prática, outra grande preocupação em Mato Grosso, a zona urbana concentra os maiores índices. Aqui, de acordo com dados da Superintendência Regional do Trabalho, 27 mil crianças, a maioria meninos com idade entre 7 e 14 anos, desenvolvem algum tipo de trabalho, seja em casa, nas ruas ou em empresas.
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