Infelizmente, acho que é hora de repetir a “Saga da Amazônia”, de Vital Farias, em homenagem aos indígenas de Belo Monte

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

Em 1982, Vital Farias lançou “Saga da Amazônia”, no elepê Sagas Brasileiras. A letra fala exatamente da degradação da flora e da fauna da Amazônia; da destruição da cultura e das tradições, dos povos indígenas e tradicionais; do desmatamento e da poluição dos rios; das mortes sucessivas de índios, castanheiros, seringueiros; da sucessão de covas com “gente enterrada no chão… 31 anos depois, aqui estamos, na ansiedade em relação ao mandato de desocupação de Belo Monte. E vale, em meio a isso, voltar a Vital Farias e à beleza de sua triste denúncia, dez anos antes até mesmo da Eco 92!

Saga da Amazônia

Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta/ mata verde, céu azul, a mais imensa floresta/ no fundo d’água as Iaras, caboclo lendas e mágoas/ e os rios puxando as águas

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores/ os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores/ sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir/ era: fauna, flora, frutos e flores

Toda mata tem caipora para a mata vigiar/ veio caipora de fora para a mata definhar/ e trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira/ e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar/ pra o dragão cortar madeira e toda mata derrubar/ se a floresta meu amigo, tivesse pé pra andar/ eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo pra vingar/ e o fruto que dá no cacho pra gente se alimentar?/ depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar/ igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar/ e quem habita essa mata, pra onde vai se mudar???/ corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá/ tartaruga: pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura

No lugar que havia mata, hoje há perseguição/ grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão/ castanheiro, seringueiro já viraram até peão/ afora os que já morreram como ave-de-arribação/ Zé de Nata tá de prova, naquele lugar tem cova/ gente enterrada no chão

Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro/ disse um castanheiro para um seringueiro que um estrangeiro/ roubou seu lugar

Foi então que um violeiro chegando na região/ ficou tão penalizado que escreveu essa canção/ e talvez, desesperado com tanta devastação/ pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção/ com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa/ dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor/ pra gente que tem memória, muita crença, muito amor/ pra defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta/ era uma vez uma floresta na Linha do Equador…

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.