O vídeo ficou poucas horas no site do Departamento de DST/Aids do ministério e no canal oficial da pasta no YouTube. Apesar da retirada, é possível conferir o audiovisual através de outros usuários do YouTube.
Samir Oliveira
A relação do governo Dilma Rouseff (PT) com as organizações sociais ligadas aos homossexuais voltou a se estremecer nesta semana após a retirada de um vídeo do site do Ministério da Saúde. O material faz parte da campanha de prevenção à Aids lançada na quinta-feira passada (2) e mostra dois homens trocando carícias dentro de uma boate.
De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, o vídeo foi excluído porque foi feito apenas para ser exibido em locais frequentados por homossexuais, como casas noturnas específicas para o público. A assessoria diz que foi “um equívoco” o material ter ido para o site e informa que ainda estão sendo feitos “ajustes técnicos” no vídeo, como a inserção de tradução simultânea das falas para a linguagem de sinais.
Além disso, o ministério assegura que um outro vídeo – também voltado aos homossexuais – está sendo preparado e será divulgado em canais de televisão aberta a partir do dia 12. O governo federal também ressalta que os homossexuais são o público principal da campanha de prevenção à Aids exibida durante o carnaval deste ano. Além do vídeo a ser exibido na televisão e o que será veiculado em boates, foram produzidos cartazes, bandanas e bonés. Um dos cartazes mostra, inclusive, uma relação entre um jovem e uma travesti.
As explicações do ministério vieram à tona depois que diversas ONGs que defendem os direitos de homossexuais denunciaram a retirada do vídeo. Algumas organizações chegaram a sugerir que teria havido uma determinação direta da presidente Dilma Rousseff para a exclusão do vídeo – assim como houve com a retirada dos materiais destinados a uma campanha contra homofobia nas escolas em maio do ano passado.
A Articulação Brasileira de Gays (Artgay) enviou nesta quarta-feira (8) um ofício à Presidência da República e ao Ministério da Saúde solicitando que não houvesse censura ao material da campanha de prevenção à Aids. “A Artgay e suas 80 ONGs vêm, por meio deste apelo republicano, solicitar que vossas excelências não censurem a campanha de vídeo e spot de rádio voltadas para a prevenção de adolescentes e jovens gays no Brasil no carnaval 2012”.
O coordenador geral da Artgay, Léo Mendes, diz que os movimentos sociais que defendem os homossexuais já estavam articulados para cobrar medidas do governo federal em virtude dos “antecedentes de censura” que já foram demonstrados pelo Palácio do Planalto. “Fizemos um apelo preventivo ao ministro Alexandre Padilha e à presidenta, tendo em vista que temos antecedentes de censura nessa área. Temos percebido que quando é uma campanha voltada a heterossexuais, não há problema. Quando é algo voltado aos gays, há censuras”, critica.
Mendes atribui as restrições do governo federal à influência de setores da base aliada no Congresso Nacional. “A censura não vem dos técnicos, vem dos deputados da bancada evangélica que não querem de jeito nenhum qualquer tipo de gasto publico com a população homossexual no Brasil”, aponta.
O ativista social avalia que há “um retrocesso brutal” em políticas públicas voltadas aos gays no governo Dilma. “Quase todos os ministérios fecharam os grupos de trabalho que tratavam de segurança pública para a população LGBT. Há uma paralisia total das políticas que estavam em andamento”, condena.
Jean Wyllys cobra explicações do ministério e critica exibição de vídeo somente “em guetos”
A exclusão de um vídeo da campanha de prevenção à Aids do site do Ministério da Saúde gerou repercussão também na Câmara dos Deputados. O deputado federal Jean Wyllys (PSOL) emitiu um comunicado onde informou que cobrará explicações do ministro Alexandre Padilha.
O parlamentar disse que já havia tentado se reunir com Padilha no final do ano passado para questioná-lo sobre a diminuição de recursos destinados à campanha para o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. “Apesar de meus esforços para conseguir uma audiência, através de ofícios enviados ao seu gabinete, bem como mensagens trocadas de nossos perfis pessoais no Twitter, não fui recebido. O ministro apenas destacou um assessor para falar comigo por telefone”, criticou Jean.
O deputado garante que irá enviar novos pedidos de audiência e criticou a opção por exibir o vídeo voltado a homossexuais somente “em locais segmentados”. “O vídeo não deve estar restrito aos guetos gays, como propôs o ministério, afinal, nós, LGBTs, não estamos restritos a guetos. Queira o ministro Padilha ou não, somos parte da sociedade: frequentamos as padarias, os postos de saúde, as academias, os bancos e os mesmos restaurantes em que os cidadãos e cidadãs heterossexuais freqüentam. E assistimos à mesma tevê aberta!”, comentou Jean, acrescentando que não será “cúmplice” de uma “homofobia mascarada”.
http://sul21.com.br/jornal/2012/02/ministerio-da-saude-retira-do-ar-video-de-prevencao-a-aids-voltado-a-homossexuais/