Almir Cezar
Um tema que inquieta os militantes negros marxistas e socialistas em geral: no socialismo haverá ainda racismo ou qualquer outra forma de discriminação ou preconceito?
As contradições primárias e secundárias
Existem contradições primárias e secundárias, ambas se desenvolvem sempre de maneira combinadas e desiguais. As contradições primárias são aquelas básicas em um sistema, que têm implicações gerais, totalizantes; logo têm mais importância que as secundárias, até por suas proprias implicações. Frequentemente originam as secundárias, quando não absorvem, ou a retroalimentam, quando a precedem temporalmente.
Por sua vez, as contradições secundárias, frequentemente só existem, ou melhor, continuam existindo diante da contradição primária, porque mesmo que tenha caráter contraditório a essa, de fato não se opõe, não interferem em sua existência. O caso do racismo, da discriminação racial e da desigualdade racial e o capitalismo é um caso emblemático que demonstra o fenômeno dialético mencionado acima.
O racismo é parte da ação global do capitalismo
O racismo é parte da ação global do capitalismo. Embora tenha suas contradições com o capitalismo, especialmente quando este assume em sua justificação o velho discurso liberal, mantém com ele, em sua dinâmica, uma grande articulação.
A frase de Malcom X de que “haverá racismo enquanto houver capitalismo” é mais do que pertinente é resume numa frase a verdade da luta do movimento negro e anti-racista. O racismo, como todos as outras formas de opressão presente em nossas sociedades contemporâneas, tais como o machismo (opressão a mulher), a homofobia (discriminação aos homossexuais), e demais discriminações e opressões, são mantidos no capitalismo porque este sistema mantém laços de dependência com eles.
O capitalismo é um sistema de exploração de uma classe pela outra (proletários pelos burgueses). Há uma classe dominante que para alicerçar sua dominação teve e tem que utilizar critérios discriminatórios, entre os quais raciais. E imputar a uma camada da sociedade elementos que o retirem as condições ao acesso aos meios de produção (propriedades, terras, conhecimento técnicos, máquinarios) e o poder político, e nesse processo é utilizado os critérios discriminatórios. Leis e processos culturais que criam constrangimentos ao acesso ao poder econômico e político.
Além disso, há a necessidade dual: a) de dividir a classe trabalhadora e b)ter uma camada dessa classe que seja superexplorada. Para tal o racismo é empregado.
O racismo divide a classe trabalhadora
O racismo divide a classe trabalhadora. Proletários e demais segmentos da classe trabalhadora, como camponenes, pequeno-burgueses e classes médias, são constituidos não exclusivamente de negros – a parcela discriminada. Há trabalhadores brancos, o que também é verdade no lado dos capitalistas, também há negros entre eles. Esses útlimos também desfrutam do beneficios proporcionado pelo racismo, e não sofrem o racismo, pelo menos na mesma intensidade (“negro que tem dinheiro não é negro, é gente”, frase popular).
O racismo é a política de 2 cores ao trabalhador. A classe trabalhadora é onde o racismo tem mais efeito. Os negros ficam com raiva dos brancos, esquecendo que aquele que lhe oprime é o patrão, a burguesia. Os brancos ficam com raiva ou medo dos negros, esquecendo que o patrão, a burguesia é sua inimiga, aquela que lhe dá o salário de fome. A classe passa a ter cor. Duas cores. Dissemina-se a desconfiança que impede a união contra o verdadeiro inimigo: a burguesia, seja ela branca ou negra.
Superexploração de uma parcela dos trabalhadores
A política de superexploração engendrada pelo racismo é frequentemente ignorada por um lado pelos socialistas e por outro pelo movimento negro.
O racismo permite que ao discriminar o negro ou outro grupo racial – subjetivamente , com leis ou através de ideologias, ou objetivamente, através da consequencia de menor escolaridade/qualificação e morar em bairros mais distantes do local de trabalho ou a suposição de residir implica em ligações com criminosos – tenham uma parcela da classe trabalhadora em razão das leis de mercado (oferta e demanda) que será obrigada a aceitar salários mais rebaixado que os demais (sejam superexplorados: explorados mais que o “normal”) e assim aumente os lucros dos capitalistas.
O socialismo abre caminho ao fim do racismo
Assim a contradição do racismo, da opressão racial, combina-se com a contradição de classe, com a luta de classe. A luta anti-capitalismo é uma luta anti-racista. A construção da sociedade de supere o capitalismo (o socialismo) abre o caminho a superação do racismo. Abre o caminho, não o encerra instantaneamente. As contradições são como tido antes, não só combinadas, mas também desiguais.
O capitalismo não inaugura o racismo. Essa forma de opressão é anterior a forma social burguesa. É só lembrar que os gregos antigos e os romanos ao se referir os estrangeiros chamavam de “barbaros” – lidavam com eles como seres inferiores e os escravizavam. Mas também o racismo não é inato a civilização e a humanidade. Houve civilizações onde a questão racial não era tratada por orientações racistas, como o Egito antigo, por exemplo.
Mas a implantação de uma sociedade pós-capitalista não encerra automaticamente o racismo, mas as bases objetivas que o mantiveram apesar de ideologias em contrário (“liberdade, igualdade, fratenidade”), a necessidade de oprimir para explorar, desaparecem. Porém na transição da sociedade capitalista a socialista, passando pela imediato período que pode ser chamado de pós-capitalista, ficam resquício de ideologias burguesas como de elementos burgueses que fazem manter o racismo, embora anacrônico e diminuído. Será necessário manter a revolução permanente contra o racismo, como todos elementos burgueses que se mantiveram, é claro será uma luta mais facilitada, mas que permanece premente para assegurar a transição ao socialismo, onde sem nenhuma forma de exploração não haverá opressão.
Os militantes comunistas devem estar em mente o revolucionário em suas lutas, a luta não apenas contra as contradições primária mas também a secundária nas elaboração das táticas e das estratégias. Todos revolucionário deve lutar contra o racismo (sendo negro ou não) e todo militante antirracista deve lutar contra a exploração capitalista, para reunificar a classe, eliminar a superexploração que esmaga fisicamente uma parcela da classe e reduz os salários de todos.
Toda derrota do racismo é uma derrota do capital que enfraquece o capitalismo e o regime burguês e fortalece objetivamente e subjetivamente os trabalhadores.
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