No Rio, atentados após conflitos com grandes obras em regiões de pesca

Sem dizer sim ou não, Alexandre Anderson de Souza, de 41 anos, responde se tem medo de ser executado:

— Sei que vou ser assassinado, só não sei o dia. Já senti o cheiro de pólvora — afirma o presidente da Associação Homens do Mar da Baía de Guanabara (Ahomar), na Praia de Mauá, em Magé.

— Ele não consegue dormir, fica parecendo uma assombração. E eu tomo remédios — completa sua mulher, Daize Menezes de Souza, de 44 anos.

O casal está na lista de ameaçados de morte de 2010 da Comissão Pastoral da Terra. Além deles, o pescador Luiz Carlos Oliveira, de Santa Cruz, na Zona Oeste, integra a relação de marcados para morrer no Rio.

Desde que começou a liderar protestos contra uma obra da Petrobras realizada pelos consórcios Oceânica e GDK, Souza perdeu dois colegas de pesca assassinados e sofreu seis atentados. Ele diz que o empreendimento causou danos ambientais à região e afastou peixes. Segundo o pescador, ameaças partiram de seguranças e policiais ligados às empresas.

“Quem protege às vezes é o mesmo que ameaça”

Incluído no programa de proteção da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, há nove meses, após acordo com a Secretaria estadual de Segurança, vive sob proteção. Duplas de PMs se revezam em turnos de apenas duas horas. O pescador diz que a escolta não aumentou a sensação de segurança.

— Já veio policial que bateu em pescador e até que dizia fazer parte de milícia. A gente sente que quem protege às vezes é o mesmo que ameaça — queixa-se Souza, que pediu que os dois PMs que faziam sua segurança esperassem pelo fim da entrevista fora da Ahomar.

A proteção veio depois de um atentado sofrido em julho do ano passado. O pescador estava em casa com a mulher quando percebeu que, do lado de fora, dois homens os observavam:

— Chamei a polícia. Ao serem abordados pelos PMs, os caras dispararam vários tiros. Eles foram presos e liberados no mesmo dia — relata o pescador, com a perna direita engessada, por conta de uma tentativa de atropelamento que sofreu no mês passado, mesmo escoltado.

Souza diz que prestou queixas à polícia, mas nunca foi chamado para depor. Uma das únicas conversas com delegados foi ao ser preso por porte ilegal de armas e receptação em 2009, acusações que nega.

Ele não esconde o rosto para as fotos. Mas, depois de dar seu depoimento em vídeo, observa:

— Espero que esse não passe na TV como passou aquele do José Cláudio — diz, referindo-se à gravação divulgada dias após a morte do ambientalista no Pará.

VÍDEO: Pescador conta como é viver sob ameaça

A história de Souza tem muitos pontos em comum com a de Luiz Carlos Oliveira. Em 2007, o líder da Associação dos Pescadores dos Cantos dos Rios iniciou protestos contra a implantação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), devido a supostos danos ambientais. O pes$acusa seguranças da obra de perseguição:

— Os seguranças deles eram milicianos. Várias vezes me seguiram e apontaram armas para mim, dizendo que não me queriam ali.

Cadeirante, Oliveira diz que, após sofrer nova ameaça em fevereiro de 2009, arrumou uma bolsa, pegou um táxi e jamais voltou. Ele também integra o programa federal de proteção e $fora do estado. Após deixar Santa Cruz, sua casa foi invadida, e atearam fogo num lençol.

Em nota, a assessoria de imprensa da Petrobras informou que “a empresa compromete-se a respeitar e apoiar os direitos humanos e combater qualquer violação desses direitos (…). A empresa reafirma seu compromisso com o meio ambiente e com o bem-estar das comunidades nas quais está presente”. A nota não trata do suposto envolvimento de seguranças em atentados contra pescadores.

Diretor jurídico da TKCSA, Pedro Teixeira negou as acusações de Oliveira. Segundo ele, quando recebeu as denúncias, a empresa fez “análise profunda” em delegacias e na Justiça a respeito de um dos funcionários supostamente envolvidos nas ameaças, mas nada foi encontrado.

— A ThyssenKrupp recebe com bastante indignação essas acusações. É um grupo que preza pelo meio ambiente e pelas relações trabalhistas — afirmou Teixeira.

http://extra.globo.com/noticias/brasil/no-rio-atentados-apos-conflitos-com-grandes-obras-em-regioes-de-pesca-1956351.html

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.