Luís Eduardo Gomes, Sul 21
Centenas de moradores da Vila Dique e de movimentos populares bloquearam o tráfego de veículos na free way na manhã desta quinta-feira (6) para reivindicar o direito de as famílias permanecerem no local e também para exigir melhores estruturas sociais na região. Os manifestantes utilizaram caixas e pneus queimados para trancar o trânsito por cerca de duas horas.
O processo de remoção das famílias da Vila Dique, localizada na Zona Norte de Porto Alegre, decorre do projeto de ampliação do Aeroporto Salgado Filho. Em 2005, o governo federal começou a cadastrar as 1,5 mil famílias que ali moravam e, segundo o movimento, realizou o processo de remoção forçada de 922 delas entre o final de 2009 e 2011. Estas famílias foram transferidas para o conjunto habitacional Porto Novo, localizado nas proximidades do Porto Seco.
Contudo, atualmente, ainda residem cerca de 650 famílias no local. “Essas famílias ficaram para trás, foram abandonadas”, disse Tiana Brum de Jesus, assistente social e apoiadora do movimento de moradores Vila Dique Resiste, acrescentando que a vila cresceu porque novas famílias foram formadas e outras pessoas também se transferiram para o local. “A luta de hoje é para que as famílias que estão na Vila Dique possam permanecer com o dignidade e urbanização. Nosso objetivo é a negociação para que o governo federal possa liberar os subsídios para a prefeitura executar esse processo de urbanização”, complementou.
Segundo ela, o processo de remoção resultou na retirada de equipamentos e estruturas sociais que existiam na vila, como posto de saúde, escola de ensino fundamental, clube de mães, associação de moradores e galpão de reciclagem, no qual muitas dos moradores trabalhavam. “A luta é para recuperar isso e para receber investimentos em iluminação pública e saneamento básico”, ressaltou Tiana.
A frente nacional de movimentos Resistência Urbana, que ajudou a organizar a ação, afirma que os moradores querem o recadastramento total da comunidade, respeitando o direito das famílias que desejam ir para o Porto Novo e as que desejam permanecer na Vila Dique; a transferência das pessoas que optaram por ser transferidas; instalação de contêineres fixos para um posto de saúde.
Atualmente, a ocupação do local está sendo avaliada em um processo de mediação entre o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública e a prefeitura de Porto Alegre. Contudo, o movimento acredita que é o governo federal que deve dar as respostas exigidas pela comunidade, uma vez que o processo remoção é decorrente da ampliação do aeroporto, de responsabilidade federal, e também porque a prefeitura não teria recursos de atender as reivindicações.
De acordo com o movimento Vila Dique Resiste, cerca de 300 pessoas participaram do protesto, que contou com a participação de moradores das ocupações Enrique Morales, Império e Progresso, todas também na Zona Norte. A Polícia Rodoviária Federal estima que 100 pessoas participaram do ato, que bloqueou todas as pistas da BR-290 durante, no sentido capital-interior, entre às 7h30 e 9h30, segundo a PRF. A polícia também informa que o ato chegou a causar 5 km de congestionamento, mas, após a liberação e limpeza da pista, o trânsito passou a fluir normalmente.
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Imagem: Moradores da Vila Dique bloquearam a free way para protestar contra a remoção das famílias do local | Foto: Cláudia Favaro/Arquivo Pessoal