Ubervalter Coimbra, Século Diário
A procuradora federal Carolina Augusta da Rocha Rosado marcou para a próxima segunda-feira (29), às 13 horas, visita à comunidade de Angelim II, no município de Conceição da Barra, norte do Estado. Não se trata de simples cortesia: a procuradora verificará no local a denúncia do corte de todo o eucalipto plantado pela Aracruz Celulose (Fibria) na terra, que tomou em 1972.
Ocorre que hoje a terra está sendo objeto de ação civil pública que tem como objetivo devolvê-la aos seus legítimos donos, os quilombolas. Está, pois, sub judice.
Parece que a empresa tem pressa em retirar todo o eucalipto dos 40 alqueires que grilou em 1972 e desde esta época os explora com plantios de eucalipto. Uma hipótese é que a empresa dá a causa como perdida, e faz política de terra arrasada, para não ficar nada para os quilombolas, quando tiver que devolver a terra.
Esta nova grilagem foi objeto de um pedido de socorro da comunidade à Procuradoria do Ministério Público Federal (MPF). O pedido foi formalizado pelo presidente da Associação de Pequenos Produtores Rurais de Angelim II (APPRA), José Mateus dos Santos, em um “termo de comunicação” ao MPF.
Nesta quinta-feira (25), o quilombola foi pessoalmente à Procuradoria. Entre um e outro trabalho, foi recebido pela procuradora Carolina Augusta da Rocha Rosado, que cuida da ação judicial. Ela não só assumiu o compromisso da visita, como informou que já tem uma posição do Instituto Nacional de Colonização Agrária (Incra) sobre a área. Não revelou seus termos. Entretanto, a Procuradoria solicitou procedimento em relação à área ao órgão federal.
José Mateus dos Santos comemora. “Que eu saiba, é a primeira visita de uma procuradora federal em Angelim II”. Ele informou que o objeto inicial da visita seria uma verificação de denúncia sobre a contaminação das águas do Córrego Angelim, que corta a região, e que recebe os agrotóxicos usados pela Aracruz Celulose (Fibria) nos seus eucaliptais, que acabam no leito do córrego.
Os quilombolas acreditam até na possibilidade de que a procuradora Carolina Augusta da Rocha Rosado convide a também procuradora Walquíria Imamura Picoli, ambas lotadas em São Mateus, para a visita. Asseguram que constatarão a miséria em vive a comunidade quilombola, a partir da grilagem de suas terras pela Aracruz Celulose (Fibria).
A empresa começou a fazer os plantios de eucalipto no Espírito Santo em 1967 em terras tomadas, ou compradas a preços vis, após ameaça, de pequenos agricultores, quilombolas e indígenas.
A Aracruz Celulose (Fibria) foi fundada pelo empresário norueguês Erling Sven Lorentzen, casado com a princesa Ragnhild, irmã do rei Harald V. Para tocar seu projeto recebeu dinheiro e outros apoios da ditadura militar e continua recebendo favores dos governos federal, estadual e municipais.