O governo brasileiro dará a conhecer nesta segunda-feira, 1º de dezembro, os resultados da investigação para definir se o presidente João Goulart, derrocado em 1964 pelo golpe militar que instalou uma ditadura de 21 anos, foi assassinado, anunciaram fontes oficiais.
Segundo a chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Ideli Salvatti, já foram finalizados os três informes forenses sobre as análises dos restos mortais de Goulart, realizados por especialistas do Brasil e do exterior.
As conclusões serão divulgadas em um documento que será entregue na segunda-feira à família de Goulart e que depois será divulgado à imprensa.
Os restos mortais de Goulart, falecido em dezembro de 1976 em seu exílio na Argentina, oficialmente à raiz de um infarto, foram exumados em 12 de novembro do ano passado em sua cidade natal, São Borja, Estado do Rio Grande do Sul.
Familiares de Goulart suspeitam que o ex-presidente foi envenenado por agentes da ditadura, no marco da chamada Operação Condor, uma aliança criada na década de 1970 entre os governos do cone sul para perseguir os opositores dos regimes autoritários que governavam, então, os países da região.
As análises dos restos mortais foram realizadas por três laboratórios: o brasileiro TASQA, o Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses de Portugal e o Serviço Externo de Ciências e Técnicas Forenses da Espanha.
“Os especialistas, da polícia federal (brasileira) e dos dois laboratórios internacionais, assim como especialistas de outros países (argentinos, uruguaios, portugueses, espanhóis, cubanos) compararão os informes dos três laboratórios e, com base nisso, elaborarão um informe final”, expressou Salvatti.
A ministra afirmou que, sejam quais forem os resultados, “o importante é que todo esse trabalho foi realizado com absoluta transparência, com as técnicas mais avançadas, para apresentar o informe mais fiel”.
“Não estamos exumando somente um presidente da República, mas um período da história brasileira que deve ser resgatado”, acrescentou.
A exumação dos restos mortais de Goulart foi ordenada pela Comissão da Verdade, que investiga os crimes do regime ditatorial e que apresentará suas conclusões em dezembro deste ano.
A suspeita de que tenha sido assassinado foi manifestada há vários anos por seus familiares, e se afiançou depois de que o ex-agente uruguaio Mario Neira Barreto – detido desde 2003 no Brasil por assalto a um banco e tráfico de armas – assegurasse que participou da colocação de uma pastilha com potássio e cloro desidratado em um dos medicamentos que ingeria diariamente o ex-mandatário para tratar seus problemas cardíacos.
A viúva de Goulart, María Thereza, assegurou, no entanto, que no crê na hipótese de assassinato, e que segue convencida de que seu esposo faleceu à raiz de problemas cardíacos, quando dormia na casa da Argentina onde vivia exilado.
“Ele padecia de problemas cardíacos há muito tempo… Nunca pensei em envenenamento”, disse em uma entrevista o jornal brasileiro “Zero Hora”.
Mas a Comissão da Verdade, que investigou o caso, detectou “indícios concludentes” de que Goulart foi vigiado no exílio pela chamada Operação Condor, de cooperação entre os regimes autoritários da Argentina, Brasil e Uruguai, e considerou que, por essa razão, a hipótese de assassinato não pode ser descartada.