Solução para o problema pode ser a criação de políticas públicas para retirar de circulação produtos mais perigosos
Expedito Pereira de Souza é ex-produtor rural. Durante anos se dedicou à produção de tomate, pepino e uva no distrito de Guaravera, zona sul de Londrina. Mas há 18 anos foi forçado a deixar a propriedade aos cuidados de familiares para tratar da saúde. Souza foi uma das vítimas de intoxicação por agroquímicos, produtos que eram aplicados para livrar a lavoura de pragas e doenças.
O último levantamento realizado em 2011 pelo Sistema Nacional de Informações Toxico Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aponta que 5.075 pessoas foram intoxicadas com defensivos agrícolas naquele ano, representando 4,79% do total de casos de intoxicação registrados no Brasil. O número é ligeiramente menor se comparado ao levantamento de 2001, quando o volume de casos por intoxicação com agrotóxicos no País chegou a 5.384. Ainda que menor, preocupa as autoridades de saúde.
O número de intoxicações por agroquímicos nas lavouras brasileiras pode ser bem maior, já que os dados da Fiocruz só computam casos de pessoas que recebem atendimento médico imediato, ou seja, quando a intoxicação é aguda. Casos crônicos não são computados. “É difícil conseguir ver os efeitos crônicos de exposição ao agrotóxico durante 20, 30 anos”, revela Luiz Claudio Meirelles, pesquisador da área de saúde pública do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Fiocruz. Segundo ele, as pessoas não têm consciência de que uma doença pode aparecer ocasionada pela exposição a esses produtos. Estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que de cada 100 casos de intoxicação por agroquímicos ocorridos nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, apenas em torno de 5% são notificados.
O ex-produtor da região de Londrina se considera sortudo porque diagnosticou a intoxicação a tempo. Souza lembra que sentia muita falta de ar e passava mal durante o trabalho de pulverização das lavouras de tomate e pepino cultivados em estufas. Depois de muitos anos tendo crises de falta de ar, o ex-agricultor, que nunca havia procurado um médico, lembra que teve a oportunidade de realizar um exame de sangue quando o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) promoveu uma ação em parceria com órgãos de saúde.
O exame de Souza apontou a presença de agroquímico no sangue do ex-agricultor. “Na época, estava com apenas 60% da minha capacidade respiratória”, lembra. Mesmo assim, o ex-produtor continuou na atividade por mais seis anos. “Um dia o médico me disse que ou eu parava com a atividade ou morria de intoxicação.” A partir daí, Souza parou com a lida na lavoura e começou a trabalhar com transporte escolar no distrito de São Luiz, zona sul de Londrina.
Expedito Souza recorda que não usava Equipamento de Proteção Individual (EPI) e depois de cada pulverização saía da estufa “suando” veneno. “Hoje, recomendo que os produtores evitem o máximo de contato possível com os agroquímicos.”
–
Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.