Soldado reformado que trabalhou em cárcere clandestino da ditadura no Rio de Janeiro foi encontrado em Tauá e prestou depoimento em Fortaleza
Foi detido em Tauá (a 344 km de Fortaleza) Antônio Waneir Pinheiro Lima, ex-carcereiro do que é considerado um dos mais brutais centros de tortura do regime militar: a “Casa da Morte” de Petrópolis. Aos 71 anos, o soldado reformado do Exército, conhecido como “Camarão”, foi levado à força para a sede da Polícia Federal em Fortaleza, onde prestou depoimento e foi liberado.
A informação foi divulgada ontem pelo site do jornal O Globo. Conforme a matéria, “Camarão” admitiu que trabalhou como “vigia da casa”. Afirmou, porém, não saber o que se passava lá. Ele foi localizado em Tauá no fim de semana, onde estava escondido desde agosto.
A Comissão Nacional da Verdade convocou Waneir para depor. Até o começo da noite de ontem, a data não estava definida. A expectativa é de que ocorra ainda este mês.
“Camarão” vivia em Araruama (RJ). Abandonou a residência ao saber que era procurado pelo grupo do Ministério Público Federal que investiga crimes ocorridos na ditadura.
Somente agora a identidade de “Camarão” foi descoberta. Sua existência foi revelada por Inês Etienne Romeu, única presa política que conseguiu sair com vida da casa, segundo se tem notícia. Membro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), ela ficou presa no local entre maio e setembro de 1971. Conseguiu ser libertada porque prometeu aos torturadores atuar como infiltrada. Mas não cumpriu o acordo.
Inês memorizou nomes, detalhes do local e o telefone da “Casa da Morte”. Em 1979, julgando-se livre de riscos, ela revelou à Ordem dos Advogados do Brasil a existência do local.
No relato, ela afirmou que o nome de “Camarão” seria “Wantuir ou Wantuil”. Ela disse ainda ter sido estuprada por ele duas vezes. Inês reconheceu “Camarão” por foto.
A localização da Casa da Morte foi descoberta a partir do número de telefone memorizado por Inês. Acredita-se que cerca de 20 pessoas tenham sido executadas no local. Em 2004, Waneir chegou a ser preso em Araruama, acusado de disparar quatro tiros contra o músico Lúcio Francisco do Nascimento, do grupo Molejo, após discussão. Ele foi absolvido no Tribunal do Júri na cidade.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.