Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental
Ontem publicamos em primeira mão notícia da prorrogação por mais dois anos da proteção à Terra Indígena Piripkura, no Mato Grosso. No Diário Oficial da União, ela era uma Portaria de dois artigos, o segundo dos quais se referia a outra, de nº 1264, de 03 de outubro de 2012. Em seguida, vinha um despacho sobre a Terra Indígena Xakriabá, em Minas Gerais, este se espalhando por mais cinco páginas. As duas informações foram divulgadas juntas, na postagem Mais duas: antes de sair, Maria Augusta Assirati aprovou o Relatório da Terra Indígena Xakriabá, Minas, e prorrogou por dois anos a proteção aos Piripkura de Mato Grosso.
Hoje, a Agência Brasil publica a informação sobre a Portaria e no primeiro parágrafo diz:
“Pela terceira vez desde 2010, a Fundação Nacional do Índio (Funai) prorrogou o prazo de proibição de entrada e permanência de não índios na Terra Indígena Piripkura, nos municípios de Colniza e Rondolândia, na região noroeste de Mato Grosso. Na área de aproximadamente 242,5 hectares, supostamente, vivem os dois últimos membros de uma etnia isolada, os Piripkuras. Um hectare corresponde às medidas de um campo de futebol oficial.”
Vamos publicar em seguida o restante da notícia, mas antes gostaria de manifestar meu estranhamento quanto à forma como a questão é nele apresentada. Diz o repórter: “Na área de aproximadamente 242,5 hectares, supostamente [grifo meu], vivem os dois últimos membros de uma etnia isolada, os Piripkuras”. E, se alguém ainda não se tocou quanto à imensidão de hectares supostamente habitados (ou deveríamos dizer desperdiçados?) por esses dois indígenas, lá vem a original comparação de sempre: “Um hectare corresponde às medidas de um campo de futebol oficial”.
Considerando as pessoas que leem este blog, acho desnecessário criticar o “índios isolados” do título; defender os direitos desses dois últimos indígenas ‘em isolamento voluntário’ ao território e à saúde, coisas que seus parentes de etnia não tiveram; afirmar que, pelo menos por enquanto, são também 242,5 hectares de biodiversidade que não estão sendo transformados em “campos de futebol do agronegócio”; ou, até mesmo, sugerir a hipótese de que nesse pequeno espaço de mata quem sabe haja mais algum indígena perdido, se escondendo dos jagunços. Chega, pois.
A foto acima é da Funai, como está dito, e integra os nossos arquivos, na medida em que já a utilizamos anteriormente. Dito isso, aí vai a notícia na íntegra:
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Funai mantém restrição de acesso à área habitada por índios isolados
Alex Rodrigues – Repórter da Agência Brasil
Pela terceira vez desde 2010, a Fundação Nacional do Índio (Funai) prorrogou o prazo de proibição de entrada e permanência de não índios na Terra Indígena Piripkura, nos municípios de Colniza e Rondolândia, na região noroeste de Mato Grosso. Na área de aproximadamente 242,5 hectares, supostamente, vivem os dois últimos membros de uma etnia isolada, os piripkuras. Um hectare corresponde às medidas de um campo de futebol oficial.
Implementada pela primeira vez em 2008, a restrição é para proteger os indígenas Tyku e Mondé-i do contato com grupos sociais que possam lhes transmitir doenças. Durante a proibição, apenas pessoas autorizadas pela Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém-Contactados da Funai poderão ingressar, locomover-se e permanecer na área.
O primeiro contato com os Piripkuras – como são chamados por outras etnias indígenas da região – ocorreu durante os anos 1980. Há registros de que, à época, ao menos 20 indivíduos da etnia viviam juntos. Para proteger o território e estudar o grupo, o governo federal decidiu controlar o acesso. Os Piripkuras falam Tupi-Kawahib. Suas expressões e particularidades vocabulares são sistematizadas.
A nova restrição vale por dois anos, desde ontem (6), data em que a Portaria 1.153 foi publicada no Diário Oficial da União. A portaria foi assinada pela presidenta interina do órgão, Maria Augusta Assirati, no último dia 30.
Edição: Armando Cardoso.