Cobrado pelo MST, ministro diz que 130 mil famílias serão assentadas até 2018

O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Pedro Stédile cobrou do governo federal cumprimento dos compromissos com os trabalhadores rurais, intensificação da reforma agrária e valorização da produção agroecológica. “O governo está em dívida conosco”, afirmou. Presente ao mesmo evento em São Paulo, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, reafirmou garantia de o governo assentará todas as 130 mil famílias acampadas no Brasil hoje até o fim do mandato da presidenta Dilma Rousseff, em 2018

Rodrigo Gomes – Rede Brasil Atual – RBA / IHU On-Line

O líder dos sem-terra pediu ao ministro que algumas questões sejam resolvidas. “Nós construímos juntos o Plano Nacional de Agroecologia, mas até hoje não saiu um centavo. Ela (Dilma) se comprometeu a passar toda a parte de alimentos da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para o MDA e colocar técnicos competentes. Mas hoje a Conab é uma tapera velha”, disse Stédile, durante ato em defesa da alimentação saudável na 1ª Feira Nacional da Reforma Agrária, montada no parque da Água Branca, zona oeste da capital paulista, até domingo (25).

Patrus respondeu que o ministério é “pequeno e fragilizado”, mas que está trabalhando para expandir as possibilidades de atuação, fortalecendo o cooperativismo, a agroecologia e a agricultura familiar. “Queremos que os assentados possam produzir alimentos de qualidade e em quantidade para garantir a segurança alimentar do povo brasileiro. Ao mesmo tempo, assegurar que o povo que está na roça plantando tenha vida digna”, afirmou Patrus. Ele garantiu que os cortes do ajuste fiscal “não vão afetar o essencial” da pasta.

Apesar das críticas, Stédile reafirmou que não tem dúvida em defender o mandato de Dilma. “Somos contra todas as iniciativas da direita, seja por golpe ou desmoralização”, afirmou, acrescentando nas iniciativas nocivas ao governo ideias aventadas por integrantes de seu ministério que, segundo ele, vão na contramão do projeto político vencedor das últimas eleições.

Entre estes, destacou o ajuste fiscal, conduzido por Joaquim Levy, e o interesse do ministro da Fazenda de ampliar a idade para a aposentadoria dos trabalhadores rurais. “A qualquer mudança nesse sentido nós nos levantaremos de norte a sul do Brasil”, afirmou. Ele criticou também duas propostas da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu: liberar as chamadas “sementes castradas”, que produzem apenas uma vez, e incorporar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) à pasta que comanda.

Para Stédile, seria uma tentativa de esvaziar a agência e facilitar a liberação de agrotóxicos. “A Anvisa é para cuidar da saúde do povo. Não vamos admitir que o ministério, para atender aos interesses das multinacionais, continue liberando agrotóxicos que em outros países já estão proibidos, como é o caso do veneno mais utilizado no Brasil, o glifosato, da multinacional Monsanto. Está comprovado que ele causa câncer”, disse o dirigente do MST.

O ex-gerente-geral de Toxicologia da Anvisa Luís Cláudio Meirelles confirmou a informação de Stédile. E destacou que o agronegócio no Brasil utiliza 1 milhão de toneladas por ano de agrotóxicos e não há como garantir a segurança biológica com tantas substâncias agindo em diferentes concentrações no organismo das pessoas. “Sempre disseram que o glifosato não trazia risco de câncer. E agora a Organização Mundial da Saúde o considera carcinogênico. É preciso retirar de circulação os produtos que já estão banidos em outros países”, afirmou.

O militante sem-terra reivindicou ainda que o governo vete a tentativa de criminalizar os movimentos sociais através da chamada Lei Antiterrorismo (Projeto de Lei 2016/15), que tramita no Senado, de autoria do senador tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP). E também a proposta de privatização do pré-sal e de parte da Petrobras, por meio do Projeto de Lei do Senado (PLS) 131, de 2015, de autoria de José Serra (PSDB-SP). “O petróleo é a última riqueza coletiva deste país que ainda financia o desenvolvimento e a educação. É isso que o capital internacional quer, impedir o desenvolvimento de um projeto de país com soberania”, concluiu Stédile.

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