Reflexões sobre o partido-movimento espanhol, a partir do livro de Pablo Iglesias. Inovação: ser pós-capitalista, sem ser autoritário. Problema: poesia suprirá lacunas teóricas?
Por Benedetto Vecchi, no Il Manifesto | Tradução: Antonio Martins| Imagem: Deih, em Valencia, Espanha – Outras Palavras
Populismo 2.0 é a expressão usada habitualmente para qualificar a experiência política do Podemos, o partido espanhol que sacudiu o panorama político ibérico. Os analistas, como sempre, colocam em evidência as distâncias, os elementos de descontinuidade em relação ao pensamento político clássico. Ao fazê-lo, procuram inscrever esta jovem formação na família do populismo de matriz latino-americana, demonizado na Europa. A leitura de Desobedientes – de Chiapas a Madri, de Pablo Iglesias, explode tal simplificação em mil pedaços. Com uma ressalva: não se desmente a qualificação de antissistemaatribuída ao partido – ela é enriquecida, ao contrário, de novos elementos, que incluem o Podemos na crítica à democracia representativa. O que não exclui, porém, uma forma institucional fundada num equilíbrio dinâmico entre a democracia direta e sua forma representativa – além do reconhecimento de processos de autogoverno articulados pela sociedade civil por meio de projetos como cooperativas sociais, organizações de mútuo socorro e sindicalismo de base, coordenados em rede. (mais…)