Paul Krugman aponta o dedo: o racismo nos EUA interdita as políticas sociais

Por Dennis de Oliveira, na Revista Fórum

A eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos deu a impressão a muitos intelectuais e ativistas daquele país que o grande império estava entrando em uma era “pós-racial”. Por aqui no Brasil não foram raros negras e negros que não só comemoraram o feito simbólico como também viam esta situação como um exemplo para um país em que a maioria negra ainda se encontra como alvo preferencial dos mecanismos de extermínio.

Episódios como o de Ferguson e, agora mais recentemente, a chacina em Charleston em que um jovem branco assassinou nove pessoas negras em uma igreja, brecaram estas ideias de superação do racismo. Chama a atenção o acusado da chacina de Charleston dizer, friamente, que queria iniciar uma guerra racial. Enfim, mais de 50 anos passados da eclosão do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos, o ódio racial permanece firme e forte, mesmo com um presidente afro-americano.

Diante disto, é instigante o comentário de Paul Krugman: “o ódio racial ainda é uma força potente em nossa sociedade, como acabamos de ser lembrados, para horror geral. E, lamento afirmar isso, mas a divisão racial ainda é um elemento definidor de nossa economia política, razão pela qual os EUA são um país distinto das nações desenvolvidas pela forma dura como trata os menos afortunados e sua predisposição a tolerar o sofrimento desnecessário entre seus cidadãos.” O artigo original de Paul Krugman pode ser lido clicando aqui.

Krugman defende a idéia, neste artigo, que os Estados Unidos, ao contrário de outras nações ricas, tem resistências à implantação de sistemas de bem estar social. E infere que tal resistência se deve a intolerância racial. Um sistema de bem estar social beneficiaria, principalmente, a população negra. Possibilitaria a inclusão desta população, em outras palavras. E isto seria inadmissível para os racistas.

O economista estadunidense cita o ensaio de 2001 dos economistas Alberto Alesina, Edward Glaeser e Bruce Sacerdote, intitulado “Why Doesn’t the United States Have a European-style Welfare State?” (“Por que os EUA não têm um Estado de bem-estar social à europeia?”) – clique aqui para ler. Os autores do ensaio respondem que boa parte da população rejeita políticas de bem estar social porque as associam como mecanismos para “ajudar este tipo de gente” (leia-se, negros). Os autores do ensaio afirmam que “nos EUA, raça é o indicador individual mais importante de apoio ao bem-estar. As conturbadas relações raciais nos EUA são claramente uma forte razão para a ausência de um Estado de bem-estar social.”

Krugman afirma que este pensamento pouco modificou ao lembrar que dos 22 estados que se recusaram a implantar o programa de assistência médica proposto pelo presidente Obama (Medicaid), 21 tiveram um passado de escravidão. E mais: 80% da população que rejeita o Medicaid vivem em estados que, em tempos passados, vivenciaram a escravidão.

Esta reflexão é importante para que se veja o racismo como uma prática política não só de negação de direitos mas de afirmação de privilégios. O olhar racista direciona para a rejeição de políticas públicas, de mecanismos que garantam o bem estar social e sistemas de seguridade social. Nota-se que a lógica dos que rejeitam uma política (tímida) de saúde pública como o Medicaid expressam abertamente um viés racista. Por isto que o racismo também está subjacente, por aqui no Brasil,  naqueles que consideram que políticas assistenciais só ajudam “vagabundo” (“tipo de gente” como dizem os estadunidenses).

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.

 

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