A mandioca indígena e os canteiros do agronegócio

Por Redação Yandê

O discurso da presidente Dilma Rousseff sobre a mandioca, a bola e  as mulheres sapiens, durante uma cerimônia de lançamento dos Jogos Indígenas Mundiais na noite desta terça – feira (23/06/15), no Estádio Mané Garrincha em Brasília, virou alvo de zombaria. Muitas pessoas ao prestar atenção nas palavras da presidente durante o discurso, soltaram risadas e se perguntaram o que ela realmente quis dizer com suas afirmações. 

“…nós estamos saudando a etnia indígena, que trouxe para nós não só – como disse aqui, muito bem, a nossa vice-governadora, representando o governador -, o sabor dos nomes que estão em todas as nossas cidades, de fato, mas também eu queria saudar, porque nenhuma civilização nasceu sem ter acesso a uma forma básica de alimentação. E aqui nós temos uma, como também os índios e os indígenas americanos têm a dele, nós temos a mandioca. E aqui nós estamos comungando a mandioca com o milho. E, certamente, nós teremos uma série de outros produtos que foram essenciais para o desenvolvimento de toda a civilização humana ao longo dos séculos. Então, aqui, hoje, eu estou saudando a mandioca. Acho uma das maiores conquistas do Brasil.”, disse Dilma. Veja na integra.

Conhecida também como aipim ou macaxeira, é uma das bases da alimentação indígena em diferentes regiões. O cultivo da mandioca-brava é famoso por ser uma espécie que possui veneno e ao domesticar a planta, indígenas aprenderam a eliminar o sumo venenoso. Com a domesticação também passaram a dominar a técnica de plantio.

A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Kátia Abreu, também participou da cerimônia de lançamento da 1ª edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, ela é uma das figuras chave do evento, apesar do histórico de presidir a bancada ruralista no Congresso Nacional e ser uma das mais conhecidas lideranças agropecuaristas brasileiras.

Foi apelidada pelos ativistas e ambientalistas como “Miss Desmatamento” e Rainha da Motosserra”, ganhando até o prêmio Motosserra de Ouro, dado pelo Greenpeace em 2010, apenas as personalidades que, segundo a entidade, contribuem para o aumento do desmatamento no Brasil. A representante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, tentou entregar esse prêmio em mãos. Na época a proposta de reforma do Código Florestal por Aldo Rebelo, atual ministro do Esporte, era um os temas mais polêmicos debatidos por ambientalistas e indígenas por favorecer o agronegócio.

Para se alimentar os povos indígenas brasileiros vem enfrentado grandes problemas com os avanços de agropecuaristas em seus territórios. Muitos indígenas sem terra e condições de plantar o alimento. Sobrevivendo de cestas básicas e vivendo na beira de estradas por causa da expansão do agronegócio em suas antigas terras. Fazer parte da agricultura familiar não é possível para alguns. As dificuldades enfrentadas vão além da falta de alimentos e impossibilidades de plantar, praticando a agricultura de subsistência presente na cultura indígena. O aumento da violência contra os povos originários são é um outro ponto que preocupa lideranças em todo o país. Além da PEC 215 e outras articulações da bancada no Congresso Nacional que podem prejudicar ainda mais a demarcação de terras indígenas.

Ao saudar o alimento mandioca como um dos produtos brasileiros, a presidente Dilma, falou que estão comungando a mandioca com o milho, mas não sobre o comungar dos canteiros do agronegócio com os Jogos Mundiais Indígenas, que vão ser realizados em Palmas (TO), entre 20 de outubro e 1º de novembro deste ano. O evento é uma das apostas do governo brasileiro para trazer uma boa imagem em outros países. A grande ironia é o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, também conhecido pela forte atuação no fortalecimento de ruralistas, estar junto da ministra Kátia Abreu na promoção da celebração indígena.

Imagem: Presidente Dilma Rousseff discursa durante solenidade de lançamento dos I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (Roberto Stuckert Filho)

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Renata Machado.

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