Projeto Ibaorebu: compromisso com a cultura e com os direitos do Povo Munduruku

Izabel Gobbi e André Ramos, Funai

Entre os dias 01 a 16 de junho foi realizada a XII Etapa Intensiva do Projeto Ibaorebu de Formação Integral Munduruku, momento em que os cerca de 200 cursistas de Magistério Intercultural, Técnico em Agroecologia e Técnico em Enfermagem se reuniram na Aldeia Sai-Cinza, localizada na região do Alto Tapajós, no estado do Pará.

Nessa etapa, os cursistas tiveram atividades voltadas à linguagem matemática, gestão e avaliação escolar, direitos ambientais, saúde coletiva, administração e gestão em saúde, bem como tiveram a oportunidade de dar continuidade às práticas agroecológicas e aos registros audiovisuais iniciados na etapa anterior.

Foto: Izabel Gobbi/Funai
Foto: Izabel Gobbi/Funai

Antropologia e Registros audiovisuais, os Munduruku por eles mesmos: a vez das mulheres

Um dos objetivos da XII Etapa Intensiva, no âmbito do componente de Antropologia, era dar continuidade à edição dos registros audiovisuais realizados pelos cursistas e, dessa vez, com um intuito mais do que especial: dar a oportunidade para as mulheres do Projeto filmarem, a partir do seu ponto de vista. E foi assim que as cursistas do Magistério Intercultural elegeram o que, quem, como e quando filmar, sempre em diálogo com o restante da turma. Os resultados foram belíssimos e revelaram a habilidade e o olhar estético apurado das mulheres Munduruku.

Os cursistas do Magistério também tiveram a oportunidade de aprender noções de informática e edição, participando ativamente de cada momento do processo: escolha das imagens que deveriam fazer parte do vídeo, montagem, transcrição das falas em Munduruku e tradução para o português.

Os vídeos tem o potencial de se concretizarem como belos materiais etnográficos e poderão ser utilizados em atividades nas comunidades (nos trabalhos das escolas e postos de saúde, em reuniões comunitárias, dentre outros espaços), além de se constituírem como um excelente registro sobre os Munduruku e, sobretudo, porque é feito por eles mesmos.

Foto: Izabel Gobbi/Funai
Foto: Izabel Gobbi/Funai

Avaliação e Gestão escolar: em busca de autonomia para as escolas das aldeias

No trabalho sobre “avaliação”, parte da carga horária exigida para o curso de Magistério Intercultural,todos os cursistas tiveram a oportunidade de falar sobre a sua experiência como professores e professoras nas escolas de suas aldeias, sobre as atividades que desenvolvem e sobre o modo como avaliam os seus alunos e alunas. As ideias foram sistematizadas e poderão auxiliar no planejamento das aulas e atividades escolares, lembrando sempre da importância de professores e professoras Munduruku terem autonomia no planejamento de suas atividades.

No que diz respeito à gestão escolar, os cursistas puderam discutir sobre a importância de aprimorar a participação das comunidades nas escolas, de modo a contribuir para a implantação de projetos políticos pedagógicos próprios e para a gestão, no sentido de refletir a especificidade da escola indígena.

Foi priorizado o debate sobre o papel dos conselhos escolares no processo de construção da autonomia das escolas, bem como sobre a importância de ter acesso direto aos programas do FNDE, a exemplo do PDDE – Programa Dinheiro Direto na escola, do Mais Educação, do Mais Cultura, dentre outros. Após o entendimento sobre a documentação necessária ao acesso, os cursistas elaboraram atas de criação de conselhos escolares para discutir em suas aldeias.

Foto: Izabel Gobbi/Funai
Foto: Izabel Gobbi/Funai

Outras abordagens, outros desafios

Os trabalhos no curso de Técnico em Enfermagem se concentraram no estudo e discussão do tema saúde coletiva e saúde comunitária, em diálogo com a atual política de saúde indígena.

Já os cursistas de Técnico em Agroecologia deram continuidade aos estudos e práticas com manejos agroecológicos de recuperação de quintais, combate às erosões do solo e o tratamento na área denominada como “Parque Ibaorebu”, onde já havia sido plantada, em etapas anteriores, cerca de 800 mudas de espécies nativas, visando a preservação das nascentes de onde se origina o sistema de abastecimento da aldeia.

E, ainda, todos os cursos contaram com atividades voltadas às abordagens na área de linguagem matemática, a partir de reflexões e práticas envolvendo as concepções da matemática e geometria Munduruku.

Foto: Izabel Gobbi/Funai
Foto: Izabel Gobbi/Funai

Preparando o Encontro Munduruku de Educação

Entre as atividades realizadas destacamos também a reunião para definir encaminhamentos relativos ao Encontro Munduruku de Educação, previsto para ocorrer dentro da agenda da próxima etapa e que tem como objetivo discutir diretrizes para a educação Munduruku nas escolas.

Atualmente, a rede escolar é composta por 45 escolas em aldeias da região do Alto Tapajós e 5 escolas no Médio Tapajós, com um censo escolar de aproximadamente 3.700 alunos no ensino fundamental.

Foram criadas comissões organizadas por 7 regiões, visando a mobilização e a preparação do Encontro. Tais comissões terão a tarefa de realizar discussões nas aldeias e ouvir propostas das comunidades, de modo a contribuir para o amadurecimento dos temas que constarão da programação do Encontro.

Foto: Izabel Gobbi/Funai
Foto: Izabel Gobbi/Funai

Continuidade do Projeto Ibaorebu

A expectativa dos Munduruku é de que a próxima etapa do Ibaorebu seja realizada na segunda quinzena do mês de julho de 2015 e que efetivamente possam concluir os três cursos que estão em andamento. O desejo é de que, futuramente, sejam criadas novas turmas do Ibaorebu, que é compreendido como um processo de formação contínuo e constante.

Como já se sabe, o Ibaorebu é uma iniciativa coordenada pela FUNAI, juntamente com os Munduruku, e possui 210 cursistas, divididos em turmas de Magistério Intercultural, Técnico em Enfermagem e Técnico em Agroecologia. O Projeto é realizado com o apoio técnico e financeiro da Coordenação Geral de Promoção da Cidadania – CGPC e Coordenação Regional do Tapajós, além do apoio de outras Coordenações Gerais da FUNAI e das parcerias com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA (Campus Rural de Marabá e Itaituba) e com o DSEI Tapajós.

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