Mayra Wapichana – Conselho Indígena de Roraima
Até o mês de julho, estudantes indígenas do curso de Gestão Territorial Indígena (GTI), do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena, da Universidade Federal de Roraima (UFRR) começam a fazer parte do cotidiano do Conselho Indígena de Roraima (CIR) para cumprir a atividade complementar do Curso denominada de Tempo Comunitário. Desde a última semana os estudantes estão na sede da organização.
O GTI tem a finalidade de formar e habilitar gestores indígenas para atuarem profissionalmente em atividades que envolvam a gestão de territórios indígenas no âmbito da região amazônica, entre os estados, o estado de Roraima, o único no Brasil, que proporciona essa formação superior específica e diferenciada aos estudantes indígenas. Um turma de sete estudantes indígenas concluíram a formação no final do ano de 2014.
Dentro do quadro de atividades curriculares do Curso tem o processo do Tempo Comunitário, realizado nas comunidades indígenas, organizações indígenas ou em entidades que contemple o contexto de formação, principalmente a área ambiental e territorial. O principal objetivo dessa atividade é proporcionar ao aluno um ambiente de experiência buscando associar o conhecimento teórico e a prática.
O CIR, sendo uma das organizações indígenas que compõe o Conselho do Instituto Insikiran, instância de deliberação, controle social e de definição das ações político pedagógico para os indígenas no âmbito da UFRR recebeu nesta quatro estudantes. A cada etapa o Instituto encaminha os estudantes, a partir da escolha de campo dos próprios estudantes.
Os estudantes passam a exercer as atividades na organização no horário das 8h às 12h, de segunda a sexta-feira, nos departamentos de escolha dos próprios estudantes. Entre os departamentos, Jurídico, Ambiental e Territorial, Secretaria e na parte da coordenação geral do CIR, a Secretaria do Movimento de Mulheres Indígenas.
Para a estudante Marigleide Pereira dos Santos, do povo indígena Macuxi, da comunidade indígena Bismak, região da Raposa, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, que irá cumprir as atividades no Departamento Jurídico, coordenado pela advogada Joenia Wapichana, a expectativa é conhecer o trabalho da organização ao qual faz parte e em especial o trabalho do departamento jurídico. “A minha expectativa é conhecer, aprender um pouco do trabalho da minha organização, onde minha comunidade sempre fez parte, por isso escolhi o CIR, o departamento jurídico e o que tiver do meu alcance eu quero aprender”, reafirma Marigleide.
Mateus Pereira Pinto, do povo indígena Wapichana, da comunidade indígena Pium, Terra Indígena Manoá – Pium, região da Serra da Lua, irá buscar conhecimentos no Departamento Ambiental e Territorial, coordenado pela gestora ambiental Sineia Bezerra do Vale, destaca o objetivo de conhecer o que o CIR desenvolve em prol das comunidades indígenas. “Bom, primeiramente é conhecer o que o CIR faz em prol das comunidades indígenas, dos projetos que desenvolve, mas conhecer principalmente as ações voltadas no contexto sobre territórios indígenas.”
Para Enock Barroso Tenente, do povo indígena Taurepang, da comunidade indígena Araçá, da Terra Indígena Araçá, região do Amajari, que acompanhará as atividades por meio da Secretaria do Movimento de Mulheres Indígenas, tendo como Secretária Telma Marques, reforça que cumprir o tempo comunitário na organização, organização que sua região faz parte é um privilégio. “Primeiramente é um privilegio de estar nessa organização de base, o CIR, onde as comunidades indígenas da minha região fazem parte da organização e a perspectiva é conhecer toda a política da organização em acompanhar, lhe dar com toda pressão que o Estado faz envolvendo as terras indígenas.”
O coordenador geral do CIR, Mario Nicacio acompanhando o processo de recepção dos estudantes na organização fala sobre o privilégio de poder contribuir com a formação dos estudantes e reforça que os estudantes também possam atuar nas coordenações regionais. “O CIR fazendo parte do Conselho do Insikiran tem o privilégio de poder contribuir com a formação dos estudantes, mas também estamos discutindo que os jovens estudantes possam atuar nas coordenações regionais que são oito, não só aqui, mas nas coordenações regionais e acompanhar de perto as atividades desenvolvidas nas comunidades indígenas.”
Após o término do tempo comunitário os estudantes retornam as atividades no Instituto Insikiran, onde apresentarão um relatório de todo processo de aprendizado e experiência na organização indígena.
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Foto: Marigleide Pereira dos Santos, do povo indígena Macuxi cumpre a atividade no Departamento Jurídico