Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental
Como pode ser visto na notícia e no vídeo abaixo, a Embratur já está lançando na Europa o material de divulgação dos chamados Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, prometendo reunir “mais de 2 mil indígenas de mais de 30 países” no Tocantins, em setembro. Em outro release –“Cultura indígena, mais uma manifestação da diversidade do Brasil”-, o presidente do órgão, Vicente Neto, afirma:
“O sucesso desse evento, coordenado pelo Comitê Intertribal, Prefeitura de Palmas e Ministério do Esporte, com o apoio da Embratur, se converterá em importante promoção internacional do País, com resultados positivos para a imagem do Brasil e tem grande perspectiva de inserção de destinos turísticos do Estado do Tocantins e de outras regiões brasileiras, em especial nos segmentos de ecoturismo e turismo de aventura”.
As imagens do vídeo promocional, que tem legendagem em diversos idiomas, são belas e vibrantes, mostrando “índios” fortes, saudáveis, devidamente paramentados de acordo com suas respectivas culturas, cantando, dançando, competindo em seus rituais, sorrindo. Tudo, na verdade, que desejamos aconteça. Qual é então o problema?
Para mim, pelo menos, o problema é que olho essas belas imagens e me lembro de outras. A primeira delas, que fere e não me sai da cabeça enquanto escrevo, é o olhar meio assustado de um menino com o lábio superior levemente deformado: Gabriel. Num flash, vem outra, que levou algumas pessoas à indignação, quando publiquei: uma foto mostrando o corpo de um adolescente, da cintura para baixo, pendurado de uma árvore. Um pouco menos trágica que esses dois diferentes tipos de assassinatos, vejo o rosto marcado de Dona Damiana tendo atrás alguns túmulos na pequena área retomada à beira do canavial da usina. E eles, onde ficam? Onde estão?
Como ficam os “resultados positivos para a imagem do Brasil”, para além dessa festa da qual com certeza não participarão a comunidade de Kurusu Amba, ontem temporariamente protegida contra uma violenta reintegração de posse por Lewandowski? Onde ficam os Borari e os Arapium da Terra Indígena Maró, que um juiz afirmou não existirem? Onde ficam os Tupinambá das retomadas ou mesmo os Munduruku, que corajosamente desistiram de esperar pelo cumprimento da Constituição de 1988 e estão fazendo a auto-demarcação de seu Território?
As notícias que diariamente chegam, lemos e postamos sobre os Povos Indígenas brasileiros -esses mesmos que se pretende mostrem sua força, beleza, culturas e tradições nos tais Jogos Mundiais- não poderiam ser mais agressivamente revoltantes. O que a Embratur reconhece como importantes exemplos da “nossa diversidade”, muitos legisladores, juízes e até ministros tratam como ‘atrasos’ a serem varridos dos caminhos do ‘progresso’ do agronegócio, das barragens, da mineração.
Suas identidades precisam ser negadas, afinal, para que uma ‘opinião pública’ anestesiada por meios de comunicação a serviço do capital não se indigne à medida em que eles são varridos para a beira das estradas, para as periferias das cidades, para longe, enfim, das terras que conservaram e pelas quais zelaram ao longo dos tempos.
Não quero saber de penas e penachos. Neste momento, não quero saber dos desenhos feitos com a força do urucum. Ou das maracas, das danças, dos cantos. Pelo menos, não quero saber dessas manifestações de alegria representadas no vídeo abaixo. Quero saber, sim, de indignação e de revolta. Quero saber até quando aceitaremos, nós, “não indígenas”, o etnocídio que se desenvolve neste mesmo País onde vivemos e com a omissão da maioria absoluta da população.
Não quero essa mentira colorida, quando tantos velhos, adultos, adolescentes e crianças indígenas bebem água poluída nas margens das estradas, adoecem de contaminação, são estupradas em aldeias/favelas, buscam um refúgio no álcool, matam e são mortas pela desesperança.
Chega de vergonha! Em vez de jogos coloridos, que usem esse dinheiro na luta pelo respeito e pela demarcação das terras indígenas, já!
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Embratur lança, na Alemanha, vídeo dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas
Ação promocional destaca riqueza cultural dos povos indígenas e convida os turistas a visitarem o Brasil
Imagens emocionantes de índios competindo Tiro com Arco e Flecha, Arremesso de Lança, Cabo de Força, Corrida de Tora e outros esportes tradicionais da cultura indígena ilustraram o vídeo promocional dos Jogos Mundiais Indígenas, lançado oficialmente pela Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) na ITB Berlim, que acontece durante esta semana na Alemanha.
A ação faz parte da promoção da primeira edição mundial do evento, que reunirá mais de 2 mil indígenas de mais de 30 países entre os dias 18 a 27 de setembro em Palmas (TO).
“Pela primeira vez será realizado uma competição que reunirá indígenas de várias etnias, mostrando ao mundo nossa diversidade e capacidade de sediar eventos mundiais”, disse o presidente da Embratur, Vicente Neto.
Além dos indígenas brasileiros, também estarão presentes os povos dos países das Américas, Austrália, Japão, Noruega, Rússia, China e Filipinas. Do Brasil, cerca de 24 etnias devem participar da competição.
Hoje mais de 305 etnias indígenas vivem no País e, para o organizador dos jogos, Marcos Terena, a competição ajudará a fortalecer esses povos. “O objetivo é unir essas nações indígenas”, explica.
Vídeo
Apresentado na versão de 3 minutos e com legenda em inglês, o vídeo também será legendado em espanhol, francês e português lusitano. As versões de 30 segundos também serão traduzidas para os mesmos idiomas.
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Notícia enviada para Combate Racismo Ambiental por Isabel Carmi Trajber.
O representante do Comitê intertribal disse em reunião secreta que indígena mestiço e Gay não farão parte destes jogos. Apenas “índios puros” participarão. Que jogos são esses??? Jogos mundiais e indígenas Brasileiros sendo discriminados???? Meu repúdio a esse ato que não está representando e respeitando a diversidade étnica do Brasil!!
Repúdio a esse Comitê!!!!!