Para Patrus, o governo tem o compromisso de assentar as famílias acampadas e dar condições dignas para os assentamentos já existentes
Por Iris Pacheco
Da Página do MST
Nesta quarta-feira (11), diversos movimentos sociais do campo participaram de audiência com o ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Patrus Ananias. Uma das principais pautas de reivindicação foi a construção de um plano de metas da Reforma Agrária, bem como a implementação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Reforma Agrária para avançar a pauta no país.
Na parte da manhã, as camponesas foram recebidas pela ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM), Eleonora Menicucci.
Para Atiliana Brunetto, dirigente do MST, as reivindicações que tem sido apresentadas visam melhorar as condições de vida das camponesas e camponeses, e criar mecanismos viáveis de enfrentamento ao agronegócio, potencializando a produção de alimentos saudáveis em parcerias com os órgãos responsáveis pelas políticas agrárias no país. Além de denunciar a violência sistemática sofrida pelas mulheres que deve ser combatida, “pois não faz sentido lutar contra o capital e a mulher permanecer oprimida”, acredita.
“As trabalhadoras e trabalhadores do campo querem avanços. Cobramos do governo um plano de metas para real efetivação da pauta da Reforma Agrária no país e que nesse processo o Incra seja desburocratizado. É uma vergonha que em 2014 o governo tenha assentado apenas 17 mil famílias num universo de 120 mil acampadas”, ressaltou Atiliana.
O ministro do MDA, Patrus Ananias, afirmou que o governo tem o compromisso de assentar as famílias acampadas no país e dar condições dignas para os assentamentos já existentes.
“Estamos mapeando com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) as 60 mil famílias cadastradas e recebemos do MST o número de 120 mil famílias acampadas. Vamos trabalhar para assentar dignamente todas essas famílias nos próximos quatro anos. Além disso, vamos tornar esses assentamentos espaços de vida, com acesso à cultura, inclusão digital e atividades esportivas, para a manutenção do jovem no campo”, disse o ministro.
De acordo o ministro, o momento é de uma perigosa hegemonia do pensamento conservador e que os movimentos sociais devem buscar uma linguagem comum para seus objetivos e estratégias, como a criação de um fórum que possa unificar as lutas e pautas conjuntas.
Agroecologia
Segundo dados do Incra, os altos índices de concentração fundiária aumentaram no período de 2003 e 2010 no país, e a agropecuária familiar, apesar da pouca área que ocupa (24,3%), é quem garante a produção dos alimentos para o mercado interno.
Para Maria Casé, dirigente do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), “a produção de alimentos saudáveis é a principal arma de enfrentamento das camponesas e camponeses ao agronegócio. E o MDA é o esteio para que os movimentos façam esse enfrentamento. Iniciamos o ano com o pé na pauta para poder ajudar a implementá-la”, afirmou.
O ministro Patrus salientou que a Anater será essencial para maximizar a produção de orgânicos. “Temos o desafio de fazer com que a produção agroecológica seja mais forte e possa competir e ganhar grandes mercados. Podemos até contar com os estudos da Embrapa nesse caso, mas a presença dos técnicos de Assistência Técnica e Extensão Rural será fundamental para aumentar a produção”.
Mulheres camponesas
O papel da mulher no processo de produção da agricultura camponesa é fundamental para manutenção da cultura e da diversidade.
Noeli Taborda, da direção do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), ressaltou que “o trabalho desempenhado pelas mulheres na agricultura camponesa deve ser valorizado e reconhecido, pois a maioria da sociedade o vê apenas com um serviço e não como um trabalho que agrega direitos. Além disso as mulheres precisam ter acesso aos recursos e créditos rurais. Queremos manter este diálogo permanente, mas também queremos apoio em ações diretas”.
O ministro também respondeu aos questionamentos sobre gênero e afirmou que a meta do MDA é garantir a igualdade de acesso ao crédito rural. “Também temos as mulheres como prioridade e queremos estabelecer uma relação igual entre homem e mulher no crédito rural”, assegurou.
Secretaria de Mulheres
Na manhã desta quarta-feira, as mulheres camponesas foram recebidas pela ministra da SPM, Eleonora Menicucci, e entregaram a pauta da Jornada, que inclui ações voltadas para o combate à violência contra as mulheres.
Segundo Atiliana, o encontro foi uma atividade de reconhecimento da importância do espaço para as mulheres. “É fundamental que a ministra tenha se disponibilizado para ser interlocutora com os outros órgãos no que se refere as pautas que envolve diretamente as necessidades das mulheres. Isso pode garantir um debate real sobre as condições atuais das mulheres do campo, das águas e das florestas”, afirmou.
Nos próximos quinze dias os movimentos sociais do campo vão apresentar uma avaliação sobre a participação no Fórum de violência nos estados, criado em função das unidades de atendimento móveis. E foi pautada a necessidade de estimular os municípios pólos a ter uma Casa da mulher brasileira. Esse equipamento foi criado pelo governo federal, e a 1° casa foi inaugurada em outubro de 2014 na cidade de Campo Grande, Mato Grosso Sul. Uma segunda casa está prevista para ser inaugurada no final desse mês de março, em Brasília.
As audiências integram a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Camponesas, que ocorre desde o dia 05 em todo o país e traz como lema Mulheres em luta: pela soberania alimentar, contra a violência e o agronegócio.