Cerca de 4 mil marcham em Maceió e dialogam com o povo alagoano sobre os impactos do agronegócio a toda sociedade e a proposta de Reforma Agrária
Por Gustavo Marinho
Da Página do MST
Cerca de 4 mil trabalhadores e trabalhadoras rurais Sem Terra de todo o estado de Alagoas, organizados no MST, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), e Movimento Terra Trabalho E Liberdade (MTL), realizam nesta quarta-feira (11) uma marcha na capital Maceió.
Segundo os Sem Terra, a mobilização acontece para denunciar o agronegócio, fazer a defesa da Reforma Agrária e exigir condições de vida digna para quem vive no campo, na garantia dos direitos sociais e das infraestruturas produtivas negadas aos camponeses.
Acampados desde a tarde desta terça-feira (10) no prédio da Eletrobrás, os camponeses organizam suas fileiras para percorrerem a Avenida Fernandes Lima, principal avenida da cidade, em direção ao Centro de Maceió.
No percurso passarão pela Secretaria de Educação do Estado, onde denunciarão o fechamento de escolas no campo e o sucateamento da educação ofertada aos jovens e as crianças na zona rural. Segundo eles, muitas escolas estão sem água, sem professores e merenda, além de um transporte escolar precário, quando existente.
Em nota publicada pelos movimentos, os trabalhadores sintetizam 10 pautas conjuntas para levarem ao governo do estado, entre elas a criação de Política Estadual de Desenvolvimento dos assentamentos de Reforma Agrária, que possa contemplar todos os níveis da produção no campo até a comercialização desses produtos.
Os Sem Terra mobilizados em todo o estado desde o início da semana – nas atividades que se iniciaram com a Jornada Nacional de Luta da Mulheres Camponesas -, destacaram na nota que as mobilizações são mais um momento para denunciar a situação de quem vive no campo, “pressionar os governos e os poderes para a urgente e necessária realização da Reforma Agrária como medida para a garantia de direitos e exigir condições dignas e justiça social no campo e na cidade”, diz a nota.
Os movimentos sentam com o governador do estado, Renan Filho (PMDB), na próxima quinta-feira (12) às 9h no Palácio dos Palmares.
Abaixo, confiram a nota dos trabalhadores rurais na íntegra:
À sociedade alagoana
Por que lutamos?
Alagoas convive com problemas estruturais que atingem a todos os alagoanos. A violência é permanente, sobretudo contra os mais pobres. Seja no campo ou na cidade vivenciamos um caos na educação e na saúde pública, com serviços sucateados que não atendem as necessidades reais do povo. O desemprego e a miséria também são realidades gritantes na vida dos alagoanos e alagoanas, frutos de gestões que governaram por muito tempo apenas para a parcela rica do estado, esquecendo dos que vivem nas periferias, nas comunidades tradicionais e nas áreas rurais.
Por isso que nós trabalhadores e trabalhadoras acompanhados pela CPT, MLST, MST e MTL estamos mobilizados em todo o estado de Alagoas, neste mês de março, como parte da Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária de 2015, para denunciar a situação do campo alagoano, pressionar os governos e os poderes para a urgente e necessária realização da reforma agrária como medida para a garantia de direitos e exigir condições dignas e justiça social no campo e na cidade.
Exigimos Reforma Agrária!
A reforma agrária está paralisada e não é uma prioridade dos governos. O estado de Alagoas precisa compreender que garantir terra para as famílias acampadas e o acesso a uma politica agrícola séria, possibilitaria a mudança nas condições de vida de uma grande parcela do povo alagoano, garantindo trabalho, renda, moradia, saúde e educação a quem vive no campo e, consequentemente, a superação dos piores índices sociais e econômicos do nosso estado.
A terra precisa ser democratizada e cumprir com sua função social. Alagoas é o estado que mais concentra terras no país, e essa concentração é responsável pelas profundas desigualdades sociais e econômicas que afeta a toda a sociedade.
O ano de 2015 iniciou com a determinação de dezenas de reintegrações de posse pelo Juiz substituto da Vara Agrária, Ayrton Tenório, para milhares de famílias sem-terra, algumas com mais de 15 anos de acampadas, sem que este Poder exigisse o cumprimento da função social destas terras ou ainda a garantia por parte do Estado dos direitos fundamentais à moradia, trabalho, educação e outros.
Denunciamos o modelo destruidor do agronegócio!
O agronegócio só produz com veneno. Você come e depois fica com câncer!
Em Alagoas o modelo predominante é a produção de cana-de-açúcar, que concentra 63% das terras agricultáveis, destrói a natureza, contamina o solo e as águas com uso intensivo de venenos. Concentra riqueza para algumas dezenas de famílias às custas da exploração e miséria de milhões de alagoanos.
Agora querem substituir parte da cana pela plantação de EUCALIPTO, que também não gera empregos, não distribui renda e destrói ainda mais a natureza, além de ter um alto consumo de água, que pode aprofundar a crise da falta de água.
Exigimos que a cana seja substituída pela produção de alimentos saudáveis e diversificados para alimentar a sociedade!
Queremos e lutamos:
1. Pela criação de Politica Estadual de Desenvolvimento dos assentamentos de reforma agrária, contemplando os níveis de produção (mecanização, recuperação de solos, irrigação); beneficiamento da produção e comercialização (programas e infraestrutura);
2. Por Fomento à Estruturação de Cadeias Produtivas (fruticultura, caprinocultura, apicultura, etc.) com recurso do Governo de Alagoas;
3. Para a garantia de infraestruturas sociais e produtivas necessárias para que possamos produzir e viver no campo com dignidade – estradas, água para consumo e produção, escolas, saúde, quadras de esporte, etc.;
4. Para a Conclusão e apresentação dos resultados do Mapeamento Fundiário – Destinando áreas devolutas e griladas para o programa de Reforma Agrária (Existe processo iniciado há mais de 10 anos);
5. Pela Destinação das Terras das usinas falidas e do extinto Banco Produban PARA FINS de Reforma Agrária;
6. Pela garantia do acesso das terras às margens do canal do sertão para as famílias sem terra acampadas;
7. Pela garantia e ampliação do apoio do Estado nas realizações das Feiras, como forma de chegar à cidade alimentos saudáveis;
8. Para garantir educação no/do campo nas áreas de acampamentos e assentamentos;
9. Pelo fortalecimento do Comitê de Mediação de Conflitos Agrários, sobretudo como ferramenta que ajude na resolução de conflitos e no combate a violência contra as famílias Sem Terra;
10. Pela suspensão imediata das dezenas de reintegrações de posse que poderá jogar centenas de famílias na marginalidade das favelas rurais e dos centros urbanos.
Seguiremos em luta!
Estamos e seguiremos em luta, mobilizando do Sertão ao Litoral do nosso estado para mudar Alagoas. E é preciso que toda a população que diariamente sofre com o descaso vivido pelo estado, também unir sua indignação na luta pela construção de um estado que garanta condições dignas para a vida do seu povo, com a responsabilidade de construir um futuro melhor para as próximas gerações de alagoanos e alagoanas.
Contamos com você também!
Alagoas, março de 2015.
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST)
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Movimento Terra e Liberdade (MTL)