Brigadas Populares: Nota de denúncia de perseguição política e violência policial

Brigadas Populares

A polícia mata pelo menos seis pessoas por dia no Brasil. Este é um dado de 2013 que revela um cenário de repressão excessiva preocupante, mas que ainda sim não reflete a totalidade da gravidade do problema da violência estatal. Basta lembrar casos como o do Amarildo, do Rio de Janeiro, para concluir que muitas mortes ocorrem e são sistematicamente omitidas, invisibilizadas aos olhos do poder público e da sociedade. Em sua maioria, as vítimas executadas sumariamente pelas polícias são negras, jovens – de 19 a 24 anos e moradoras de periferia. Isso demonstra o caráter racista e classista das instituições de repressão do Estado brasileiro.

No dia 12/02/2015, Manoel Ramos de Souza – o “Bahia”, morador e liderança da ocupação Vitória, da região da Izidora, zona metropolitana de Belo Horizonte – pegou uma moto emprestada com seu amigo, Edson Augustinho da Silva, para ir até o depósito localizado à Rua Ásia, no Bairro vizinho Baronesa, pois precisava comprar fiação para instalação elétrica de sua moradia que está sendo construída na ocupação. Após a compra dos fios, Bahia, que é devidamente habilitado e possui CNH regular, na pressa de chegar em casa se esqueceu do capacete no depósito. No seu caminho de volta avistou uma viatura policial e pelo fato de estar sem capacete, se locomoveu rapidamente com o intuito de chegar à sua residência, terminando por bater em uma cerca de arame farpado. Ainda atordoado com a batida e com a consequente queda da moto, Bahia escutou, por diversas vezes consecutivas, barulhos de tiros de arma de fogo em sua direção (no REDS constam 12 disparos realizados pela polícia militar), correndo sem olhar para trás, instinto de sobrevivência de qualquer pessoa.

Não bastasse isso, Bahia foi surpreendido com a lavratura de um Boletim de Ocorrência no qual consta que ele teria realizado 03 disparos contra os policias e ainda está sendo investigado por homicídio, ou no caso tentativa, uma vez que não houve vítimas. A Polícia Militar se utiliza de um mecanismo que em outros estados é chamado de Autos de Resistência, ou seja, a justificativa de uma ação truculenta que almeja a vida de uma pessoa segundo o argumento de resposta violenta da mesma. Esse mecanismo é utilizado para justificar assassinatos, violações de Direitos Humanos, transformando sempre a vitima em algoz.

A Izidora tem sido alvo frequente da Polícia Militar que sistematicamente vem empreendendo táticas de repressão e de perseguição dos moradores das ocupações. Essa não foi a primeira violência policial sofrida pelo Bahia. Por ser liderança importante e de grande destaque da ocupação Vitória, se tornou uma figura pública presente em várias manifestações e atos políticos das comunidades da região. Foi abordado, por diversas vezes, na saída do supermercado sempre pelos mesmos policiais, que teimavam em repreendê-lo. Bahia é negro, jovem e liderança política, e vem sofrendo constantemente com a perseguição política realizada pela Polícia Militar que pretende desarticular o movimento. Seu destino poderia ser o mesmo de milhares de outros jovens e negros moradores da periferia: a morte, a execução sumária!

As ocupações urbanas da região metropolitana de Belo Horizonte têm se organizado em torno da luta popular pela moradia, enfrentando a dinâmica urbana segregacionista determinada pelo capital. São frequentes os casos de violência policial em seus territórios, como prisões arbitrárias, batidas ilegais, repreensão física de moradores, perseguição política, voos rasantes de helicópteros e até mesmo disparos de armas de fogo contra mobilizações.

A luta por direitos esbarra constantemente no braço armado do Estado capitalista, que serve à garantia de privilégios de uns poucos em detrimento da exploração de uma maioria de outros. O Bahia sofreu uma tentativa de homicídio por razões políticas e por uma grata sorte escapou com vida. Mas agora enfrenta a subversão desse fato aos interesses de seus perseguidores, correndo risco de ser condenado por um crime do qual é vítima! Ficar inerte diante disso é ser complacente com a violência cotidiana praticada pelas polícias nas periferias e nas ocupações urbanas; é permitir a perseguição de uma pessoa pela cor da sua pele, pelo local de sua moradia e pelo seu envolvimento político.

#nãoéfácilserlivre!!

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Pedro Paulo Gonçalves.

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