Por Jarid Arraes, Revista Fórum
O próximo 8 de Março, o Dia Internacional da Mulher, já é neste domingo. Para muitos, essa ocasião não passa de uma oportunidade de presentear a mãe e a namorada com flores, ou mesmo para uma reunião em família. Mas ainda há muita discrepância mesmo entre os grupos conscientes, que conhecem o real significado da data e da luta das mulheres.
Enquanto feministas, ainda construimos eventos, seminários e discursos voltados para uma parcela bastante limitada das mulheres. A universalização da classe “mulher” gera prejuízos e problemas estratégicos para solucionar as demandas, os problemas sociais e as urgências femininas. As mulheres que recebem mais atenção e representação do movimento são brancas, magras, heterossexuais, de classe média e que não são trans nem possuem nenhum tipo de deficiência. Incontáveis mulheres ficam de fora da categoria “mulher” e, por isso, não conseguem se aproximar do movimento feminista e nem têm suas necessidades contempladas.
Entre trancos e barrancos, os debates até vêm acontecendo com alguma frequência. Na região do Cariri, por exemplo, a organização da Marcha das Vadias chegou à conclusão de que o formato da marcha não dialogava com as mulheres do interior do Ceará. Como donas de casa religiosas poderiam se sentir inclinadas a conhecer mais sobre o feminismo, se de cara se sentem chocadas e ofendidas? Algo similar acontece com as mulheres negras, que lutam por questões, na maioria das vezes, muito distintas das levantadas por mulheres brancas. As ideias de sexo frágil e da sexualidade pudica, por exemplo, nunca foram impostas às mulheres negras, que no Brasil sempre foram hipersexualizadas e associadas ao trabalho pesado e exploratório.
Além disso, ainda há o problema da centralização sudestina da luta. As pautas levantadas são sempre aquelas que dizem respeito ao sudeste, sobretudo ao eixo Rio-São Paulo, onde uma visão completamente excludente é alimentada pelos movimentos sociais. O Norte e o Nordeste do país são preteridos, esquecidos e ignorados. Consequentemente, as mulheres dessas regiões, suas questões e seus recortes intersecionais são completamente deixados de lado.
É verdade que o 8 de Março precisa sair das garras da mídia, que explora o consumismo e estereótipos sexistas. Mas a ideia de mulher universal reforçada por alguns tipos de ativismo precisa cair por terra, pois, no mundo real, essa mulher não existe. Que o Dia Internacional da Mulher passe a ser o dia das mulheres invisíveis, esquecidas e ignoradas por não se encaixarem em padrões – incluindo os padrões de luta social.
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Foto de capa: Reprodução / Facebook