Segundo relatório, negros eram detidos, multados e presos de maneira desproporcional por forças de segurança da cidade
O Globo, com agências internacionais
WASHINGTON — O relatório do Departamento de Justiça sobre o departamento de polícia de Ferguson será provavelmente um dos documentos mais analisados do governo Obama. Ele ilustra a forma como os negros, pelo menos em em em uma pequena cidade do Centro-Oeste, foram tratados por pessoas pagas para protegê-las e servi-las. Mas é também ajuda a desencadear uma conversa mais ampla sobre a raça nos tempos do primeiro presidente negro do país.
O relatório de 104 páginas inclui relatos detalhados de policiais que detêm, multam e prendem negros de forma desproporcional. Houve até momento que ecoaram as lutas de Selma, Alabama na década de 1960; em todos os incidentes de mordidas de cães envolvendo o Departamento de Polícia de Ferguson, onde a informação racial estava disponível, a pessoa mordida era negra.
O relatório, divulgado no mesmo dia em que o Departamento de Justiça disse não ter provas de que o policial Darren Wilson violou os direitos civis de Michael Brown, ajuda, de alguma forma, a explicar a indignação e desconfiança dos manifestantes que inundaram as ruas da cidade em todo o país, após a morte do adolescente. Como o procurador-geral Eric Holder — desviando de suas observações preparadas — afirmou claramente: “Alguns desses manifestantes estavam certos”.
Mas há partes do relatório que oferecem uma visão muito mais ampla de raça e racismo no país. Uma análise detalhada de e-mails enviados por funcionários da Justiça e da polícia de Ferguson revela evidências de preconceito racial e étnico dirigido à família Obama e outros.
Em novembro de 2008, um e-mail enviado do Departamento de Polícia dizia que Obama não seria por presidente por muito tempo, e perguntava “qual negro consegue manter o mesmo emprego por quatro anos”? O presidente e sua família também foram alvos em outras mensagens, uma delas comparando Obama a um chimpanzé, e outra com uma foto de mulheres africanas dançando seminuas com a legenda “encontro de colégio de Michelle Obama”. Além disso, uma mensagem de junho de 2011, trazia um homem perguntando se conseguiria seguro-desemprego para seus cães, já que eles “são mestiços, desempregados, preguiçosos, não sabem falar inglês e não têm ideia de quem são seus pais”.
Família de Michael Brown entrará na Justiça
A família de Michael Brown, o jovem negro morto por um policial em Ferguson em 9 de agosto passado, anunciou nesta quinta-feira que entrará com uma ação civil contra as autoridades locais por “morte injustificada”.
O episódio deu origem a semanas de protestos em diferentes cidades americanas, alguns violentos, e deflagrou um debate nacional sobre relações raciais e aplicação da lei.
— Achamos, como achamos desde o início, que o policial Darren Wilson não deveria ter atirado e matado Michael Brown em plena luz do dia como fez, e que ele tinha outras opções — explicou o advogado Anthony Gray, anunciando a ação que será aberta em nome da família Brown.
Outro advogado da família, Daryl Parks, disse que a ação será apresentada contra o policial Darren Wilson e contra o governo de Ferguson, subúrbio localizado nos arredores do condado de St. Louis, no estado do Missouri (centro dos EUA).
Com cerca de 21 mil habitantes, a maioria deles negros, Ferguson conta com uma força policial e uma câmara municipal compostos, principalmente, por brancos.
A família Brown manifestou sua decepção com o fato de o autor da morte do jovem “não ter sido responsabilizado por suas ações”.
Um grande júri em St. Louis também optou por não indiciar Wilson, depois que, em seu testemunho à Justiça, ele alegou legítima defesa. Segundo o policial, Michael teria tentado tomar sua arma.