Localizados na região Maturacá, área conhecida como ‘Cabeça do Cachorro’, indígenas cobram melhorias nos setores de saúde e energia elétrica
Luana Carvalho – A Crítica
Os índios Ianomâmis da região de Maturacá, distante 150 quilômetros do município de São Gabriel da Cachoeira, clamam por melhorias nos setores de saúde e energia elétrica nas comunidades. De acordo com lideranças da etnia, faltam médicos, remédios e materiais no posto de saúde que atende os índios. A falta de energia também compromete o funcionamento das três escolas indígenas da região habitada por aproximadamente dois mil índios.
Na quarta-feira passada, o titular do Ministério da Defesa Jaques Wagner visitou o 5º Pelotão Especial de Fronteira (PEF) de Maturacá e vivenciou as dificuldades de logística enfrentadas tanto pelo militares, quanto pelos indígenas que residem na região. No encontro, tuxauas ianomâmis entregaram uma carta ao ministro, solicitando a instalação de sistema de energia solar, que não agride o meio ambiente.
Há pelo menos dois anos que os atendimentos hospitalares e aulas nas três escolas indígenas são realizados apenas com a luz natural. “Antes tinha uma microusina do batalhão. Mas deu problema no equipamento e agora estamos sem energia para as escolas, posto de saúde e para guardar nossos alimentos”, relatou o tuxaua Jorge Yanomami.
Os índios vivem na área conhecida geograficamente como “Cabeça do Cachorro”, região montanhosa da fronteira com a Venezuela. Um freezer que guarda os mantimentos perecíveis é ligado em um gerador fornecido pelo batalhão. O equipamento funciona à base de gasolina, que atualmente custa R$ 4,10 em São Gabriel da Cachoeira.
“Além de ser muito caro, ainda temos que pagar o frete de barco”, comentou o tuxaua, que fala a língua portuguesa com dificuldade. O acesso para as comunidades é via aéreo e fluvial. Além dos benefícios sociais, alguns professores indígenas são assalariados e é com este dinheiro que compram a gasolina para o abastecer o gerador.
“Todos colaboram para comprar a gasolina, mas sai muito caro, pois para manter toda a comunidade seria preciso gastar R$ 600 em gasolina por mês. Mas não dá para comprar tudo isso”, lamentou o pajé Miguel Yanomami.
Logística demorada
O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) Ianomâmi, Alberto Góes, informou que o Ministério da Saúde disponibiliza medicamentos, mas a logística é feita apenas duas vezes ao mês. “O medicamento é solicitado via relatório. Muitas vezes falta, mas não é porque não tem, e sim porque é preciso esperar a logística”. O envio de materiais acontece todo dia 14 e 29 de cada mês, e é através dessa logística de voo que os médicos e dentistas atendem a comunidade.
No resto dos dias, Alberto informou que a comunidade conta com uma equipe de técnicos em enfermagem e agentes de saúde indígenas. “Falta estrutura no polo base, conforme foi relatado pelos irmãos indígenas. Mas o distrito tem se esforçado para construir um mini-hospital, que já está em fase de conclusão. Ele terá uma estrutura de acordo com a realidade indígena, porque a preocupação com a cultura é muito grande”, completou Alberto, que também é da etnia Ianomâmi.
Em casos de média ou alta complexidade, os pacientes são levados para o Hospital de São Gabriel da Cachoeira, que atende o Sistema Único de Saúde (SUS) mas é administrado e conveniado com o Exército Brasileiro. Os males mais comuns entre os indígenas são a tuberculose, desnutrição, pneumonia e outras doenças infecto parasitárias.
Casa de Saúde Indígena
A Casa de Saúde Indígena (Casai) de São Gabriel da Cachoeira, distante 852 quilômetros de Manaus, dá suporte aos indígenas que vão para a cidade fazer tratamento de saúde. Mesmo necessitando de reforma estrutural, o local chega a alojar até 200 pacientes.
“O paciente vem doente da comunidade e não tem onde ficar abrigado, então nós damos esse suporte. Ele é internado e depois que recebe alta, finaliza o tratamento na Casai”, explicou a assistência social Geovana dos Santos.
O coordenador de enfermagem da casa, Franciney Nascimento, informou que atualmente existem 124 índios alojados, de 24 etnias diferentes. “As principais doenças são diarréicas e parasitórias. Temos um quadro de 54 profissionais, trabalhando todos os dias, em plantões de 12 horas, sendo um médico clínico geral e uma ginecologista obstetra”, comentou.
No Hospital de Guarnição de São Gabriel da Cachoeira, 90% dos atendimentos são para indígenas.
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Foto: Considerado o município mais indígena do Brasil, nove entre dez habitantes de São Gabriel da Cachoeira são índios