O grupo de trabalho encarregado de fazer a reforma da Saúde Indígena após a mobilização indígena que enfrentou os desmandos da Funasa, culminando no seu banimento da gestão deste subsistema do SUS, iniciou os seus trabalhos em 2009. O que deveria ser um grande mutirão de reconstrução das propostas originais do modelo proposto na segunda Conferência de Saúde Indígena de 1993 revelou-se o mais absurdo retrocesso, para perplexidade de todos os que participaram na difícil luta pela criação da Sesai.
A receita inicial para toda esta confusão é muito simples: começa pela indicação de pessoas sem nenhum compromisso, conhecimento ou experiência prévia na saúde indígena, mas cheias de oportunismo político e apetite para administrar a coisa pública e seus polpudos orçamentos. Os conluios com grupos políticos corruptos e influentes nas altas esferas do governo são o fermento para fazer a massa levedar. Acrescente a isto grandes doses de autoritarismo, clientelismo e manipulação, e o bolo estará pronto para ser servido.
Nos seis anos de atuação do grupo que atualmente controla a Sesai, a situação piorou ao ponto de muitas lideranças indígenas desejarem o retorno da Funai ou da Funasa à coordenação da saúde indígena. As estratégias de marketing e de protelação, no entanto, têm se mostrado eficazes para garantir a sobrevivência deste pequeno grupo nas disputas internas do atual governo. Assim pode ser entendida a proposta de criação do Insi, o instituto privado de Saúde Indígena proposto pela Sesai e assumido pelo governo.
Nada vai melhorar, muito antes pelo contrário, mas vai se ganhando tempo e novos argumentos para enganar aqueles que se deixam ser enganados. Infelizmente estas artimanhas funcionam no atual governo, e podemos prever a provável continuidade deste modelo pelos próximos quatro anos. Nada de reforma na política de recursos humanos, nada de transparência administrativa, o fim de qualquer pretensa autonomia nos distritos e, por último porém importante, nenhum controle social ou externo para incomodar. (pd.)
Boa Vista- RR, 02 de março de 2014.