PM pode chegar a qualquer momento na Terra Indígena do Jaraguá

Comissão Guarani Yvyrupa – CGY

Cansados de esperar a ajuda da Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI), nós, indígenas Guarani Mbya da Terra Indígena do Jaraguá, decidimos ficar com uma van da SESAI até que nos garantam um carro em melhores condições para atender a comunidade em situações de emergência. Fomos notificados que a SESAI está vindo com a Polícia Militar buscar a van, mas só estamos dispostos a devolver caso nossas reivindicações sejam atendidas. Estamos na Rua Comendador José de Matos, 458, Vila Clarice e pedimos à imprensa que nos ajude para que toda a sociedade saiba do que estamos vivendo.

Há tempos tentamos chamar atenção para os diversos problemas na saúde dentro de nossa comunidade. A SESAI que deveria escutar nossos problemas e buscar soluções, não tem se mostrado aberta ao diálogo, o que nos deixa sem alternativas diante do descaso com a vida de nossos parentes.

O último representante da SESAI, Paulo Camargo, assinou alguns pedidos de melhoria feitos pela comunidade. Dentre esses pedidos duas questões eram de extrema urgência: um carro novo à disposição da comunidade para casos de emergência e o abastecimento de água com instalações que garantissem o saneamento básico na aldeia Pyau.

Paulo Camargo deixou seu cargo e a nova representante, Vilma, tornou o diálogo ainda mais difícil. A nova representante, apesar de trabalhar com saúde indígena, afirma que nem conhece e nem deseja conhecer nossa cultura, ou seja, uma pessoa totalmente alheia a nossos problemas enfrentados diariamente. A representante tem colocado ainda empecilhos e dificultado a participação de nossos representantes em reuniões que decidem questões que nos afetam diretamente.

Chegamos a uma situação em que não é possível esperar enquanto vemos nossos parentes morrerem. Em menos de 30 dias uma criança de dois anos e um idoso de 90 anos faleceram sem ter os devidos cuidados. O carro disponibilizado para a comunidade para atender casos de emergência coloca a vida do motorista e de quem precisa de atendimento em risco, isso quando conseguimos gasolina, já que a SESAI nem isso consegue garantir. Alguns dias atrás uma outra criança de menos de um ano precisou de atendimento e só conseguimos levá-la a um hospital graças a uma arrecadação às pressas para pagar um táxi.

Falta água em boa parte de nossas aldeias, o que leva muitos de nós a buscar água em lugares não apropriados levando aos casos de contaminação. Já pedimos diversas vezes por caixas d’água e novas instalações que garantam o abastecimento de toda a aldeia, mas nunca somos ouvidos. O que a SESAI nos oferece é humilhante, chegando a situação de mais de seis famílias terem de dividir um único banheiro.

Por esses motivos e muitos outros problemas enfrentados pela comunidade, decidimos ficar com a van da SESAI. Por enquanto nenhuma solução foi apresentada, mas já sabemos da possibilidade de que a SESAI venha acompanhada da Polícia Militar para ter a van de volta.

Esperamos que finalmente nos escutem e passem a solucionar os problemas imediatamente, pois não estamos dispostos a perder mais nenhuma vida pelo descaso dos que deveriam garantir nossos direitos.

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