Com a Mangueira como cenário, Flupp é sucesso

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Com 20 mil pessoas a 3a edição do evento reafirma que a periferia também é lugar de discutir e fazer literatura

Juliana Portella – Rio On Watch

Aos pés do Morro da Mangueira foi realizada a 3a Edição da Festa Literária Internacional das Periferias (Flupp), que teve seu encerramento no dia 16 deste mês, homenageando o centenário do ativista e poetaAbdias do Nascimento. Comunidade conhecida pela escola de samba e pela poesia de Cartola e Nelson Cavaquinho, a Mangueira foi palco convidativo para cinco dias de uma vasta programação para ninguém botar defeito.

De acordo com Julio Ludemir, um dos criadores da FLUPP, dizer que a favela não é lugar de livro e cultura é engano. É não entender que existem jovens de origem popular chegando às universidades, ampliando suas perspectivas e criando. “Sempre sou surpreendido pela quantidade de pessoas na Flupp. Sempre acho que não vai lotar. Esse evento está sempre superando as minhas expectativas”, disse Ludemir, que trabalha em parceria com Ecio Salles na idealização do Festival.

Essa edição da Flupp foi especial e cheia de novidades. Foi lançado o slam, uma competição de poesia cujos participantes defendem suas obras sem lançar mão de recursos audiovisuais, cênicos ou de figurino, com performances de no máximo três minutos. A performance depende exclusivamente da interpretação dos slammers. A energia de cada competição agitou a tenda Quilombolismo durante os cinco dias de evento.

Para o morador da Mangueira, José Carlos, 19 anos, a vinda da Flupp foi para somar. “Eu estou adorando o evento. Acho muito importante para a comunidade”, disse. Alexandre dos Santos, 31 anos, também avalia a chegada da Flupp de forma positiva: “A favela não é só palco de violência e confronto. É importante que a Mangueira esteja nos jornais por receber um evento cultural como esse”, conta Alexandre, também conhecido como o Paulista jornalista, o “Dono do morro”, enquanto registrava o evento.

No penúltimo dia do evento, sábado (15/11), nem a chuva afastou o público que lotou a tenda Quilombolismo para assistir a apresentação de dança da Cia Na Batalha. E em seguida, Koffi Kwahulé, autor da Costa do Marfim, e Velibor Colic, jornalista da Bósnia se encontraram na mesa “Uma Jam Session em Paris”, mediada por Julio Ludemir. Falaram sobre vivência de expatriados na França.

Inspirada na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), o maior festival literário da America Latina, essa terceira edição da Flupp reafirmou sua força e mostrou novamente que é possível discutir e fazer leitura e escrita na favela. O evento, que foi considerado em sua primeira edição como exótico, por levar o erudito e escritores internacionais para o território de pessoas que supostamente nem dominam o próprio idioma (por puro preconceito ao considerarem que moradores de favelas não gostam de literatura), reúne cada vez mais adeptos e projeta a cada edição mais autores e admiradores.

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