Em Paranhos (MS), indígenas protegidos pelo Estado recebem novas ameaças de morte

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CIMI

O que Otoniel Guarani Kaiowá considerava boato até bem pouco tempo atrás se concretizou neste finzinho da semana. Nas ruas de Paranhos, cone sul do Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai, as conversas sobre os “incômodos” gerados pela atuação de Otoniel junto aos tekoha localizados no município têm mobilizado grupos de políticos e comerciantes ligados aos latifundiários daquelas terras.

Quem ouviu as conversas também viu quem tagarelou nelas. O caso então foi encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF). “Fazia algum tempo que vez ou outra alguém dizia para eu tomar cuidado, porque em Paranhos tinha gente ‘importante’, da política, dizendo que eu estava atrapalhando as coisas. Agora ficou comprovado”, diz Otoniel. O indígena afirma que noticiou os fatos ao comando da Operação Guarani, da Polícia Federal.

De acordo com os indígenas, políticos de Paranhos e alguns comerciantes próximos de fazendeiros que ocupam o tekoha Arroio Korá, dos Guarani Ñandeva, já homologado, mas invadido pelos latifundiários, dizem que a liderança “faz a cabeça dos índios ali” impedindo supostas negociações. Dessa forma, os Guarani exigem o território e ocupam parte dele em retomada – mesmo já sendo um bem da União de usufruto exclusivo daquela comunidade.

Otoniel afirma que comunicou a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH-PR) tão logo confirmou a relevância das ameaças. O indígena faz parte do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH), assim como o cacique do tekoha Arroio Korá, Dionísio Guarani Ñandeva, também ameaçado com regularidade por jagunços e através de recados endereçados a ele. Outros seis indígenas do MS fazem parte do programa – três Guarani Kaiowá, um Guarani Ñandeva e dois Terena.

“Depois que começou (comunidade do Arroio Korá) a reivindicar o direito e a retomar a terra homologada, esses fazendeiros e políticos passaram a responsabilizar liderança. Fico preocupado, porque eu sei de onde vem ameaça, mas a comunidade está atenta e confio em Ñanderu”, diz. Otoniel espera que a SDH baixe no MS para visitas às comunidades que esperam na antessala dos atentados pela regularização e ocupação definitiva de suas terras.

Arroio Korá      

Em agosto de 2012, uma área de retomada do tekoha Arroio Korá, homologado em dezembro de 2009, foi atacada e, sob fogo cerrado, o susto e a fome mataram a pequena Geni Centurião Guarani Ñandeva. Os pistoleiros queimaram alimentos e ficaram horas atirando contra os indígenas, recarregando suas armas com munições trazidas pelos jagunços em caminhonetes. Atirados à lama, os Guarani, incluindo as 120 crianças, permaneceram durante horas cercados pela situação desesperadora de opressão, tiros, gritos de ameaças e fome.

Dos 7.176 hectares homologados, atualmente os indígenas ocupam menos de 700. As fazendas Liane e Campina, palco do ataque de 2012 e onde a aldeia foi instalada, fazem parte da terra homologada. A justificativa dos invasores é de que um embargo à homologação expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) os legitimam nas ‘propriedades’.

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