“Nós não temos, no momento, um partido de esquerda, no Brasil, viável em condições eleitorais. O que nós tivemos no Brasil em alguns momentos, com Lula ou João Goulart, foi um certo reformismo pequeno-burguês de centro-esquerda que, querendo manter a estrutura central capitalista, fez certos ajustes na máquina”, afirma o historiador.
Patricia Fachin, em IHU-Unisinos
Lembrando Borges de Medeiros, presidente do Rio Grande do Sul por 25 anos durante a República Velha, o historiador Leandro Karnal avalia a reeleição da presidente Dilma e os 16 anos de mandato petista à frente da Presidência da República como um fenômeno recorrente da tradição brasileira: a “manutenção do poder”. Contudo, a reeleição de Dilma também está associada a “um poder de sedução de um modelo de distribuição de renda”. É isso que explica, por exemplo, a vitória apertada da presidente no segundo turno das eleições. “Foi mais difícil exatamente porque o modelo de sedução que o PT exerceu está sofrendo alguns problemas, em função do fim da onda de crescimento econômico mundial e interno também”, comenta.
Para o historiador, o resultado das eleições “foi bastante próximo da realidade do pensamento brasileiro, em que diante de princípios, como ética, sepultados já, talvez, há duas eleições, o princípio que importa é: Minha vida melhorou em relação há quatro anos ou piorou?”. Ele pontua que a “grande decepção” do período eleitoral foi com junho de 2013, “na medida em que os atuais candidatos que digladiaram a cena final são representantes dos poderes que estão aí desde o fim do século passado”.
Apesar das tentativas de chamarem atenção para dois projetos políticos distintos durante as eleições, Karnal enfatiza que PT e PSDB representam um mesmo projeto com pequenas diferenças, as quais podem ser percebidas, por exemplo, na condução da política externa. “A política externa de Fernando Henrique caracterizava mais o pragmatismo clássico do Itamaraty, e a política externa de Lula voltou ao terceiro mundismo da era de Jânio Quadros, ou seja, de se aproximar de países ideologicamente próximos, mas economicamente irrelevantes. O resultado foi uma mudança na política externa, mas política externa não faz parte do nosso debate político, ninguém em comício tem qualquer opinião sobre o Mercosul, por exemplo”, alfineta. (mais…)