Ontem, Ana Paula Bispo, estudante de Produção em Comunicação e Cultura na Universidade Federal da Bahia, ia fazer um pagamento numa loja de um shopping. Parou para olhar um brinco, desistiu de comprá-lo, tentou seguir adiante: foi barrada, teve sua bolsa revistada… Só que não parou aí: felizmente, Ana Paula se indignou e denunciou o crime à supervisora da loja, ao shopping, e mais: à Polícia, em boletim de ocorrência. O depoimento abaixo foi por ela publicado numa rede social, assim como as fotos. (TP).
Por Ana Paula Bispo
Aconteceu comigo, aconteceu hoje.
Comecei meu dia muito bem, fui pra uma aula maravilhosa, nem imaginaria que poucas horas depois estaria na delegacia prestando queixa. Acho importante que o máximo de pessoas saibam o ocorrido, pois não acredito que seja um fato isolado.
Passei no shopping Iguatemi depois da aula pra resolver umas coisas, entre elas efetuar um pagamento na loja Riachuelo, entrei na loja pelo terceiro piso e umas bijuterias em promoção chamaram minha atenção. Parei para olhar e vi um brinco no formato de filtro dos sonhos, mas para mim … estava meio caro e segui. Parei novamente [próximo] aos caixas para ver o preço de um copo, quando um funcionário tocou em mim. A princípio imaginei que queria passagem, quando ele me perguntou se eu estava assustada. Antes que eu respondesse qualquer coisa, pois estava atônita, ele foi ordenando que retirasse o brinco da bolsa. Que brinco, meu Deus!!!
Indignada e confusa comecei a retirar tudo que havia na minha bolsa ali mesmo. Como a referida aula era de filmagem, estava com o equipamento dentro de uma bolsa menor, [e] ele apontou pra esta bolsa. Pedi que ele olhasse o conteúdo da bolsa, pois não gostaria de expor o mesmo, ele pediu que uma outra funcionária que havia se aproximado para olhar o interior da bolsa onde o equipamento fotográfico estava devidamente guardado. Esta funcionária era justamente a pessoa que ‘me viu’ colocar o brinco dentro da bolsa e já chegou perto de mim com uma cestinha para que eu colocasse o tal brinco.
Várias pessoas me olhavam, pedi que se identificasse e disse que não sairia da loja sem as informações necessárias para prestar a queixa.
Falei com supervisora, que se desculpou e disse que esse não era o procedimento adotado pela loja, me explicou como seria, tentou me enrolar, disse que a tal funcionária que me acusou era temporária e estava no primeiro dia (E eu com isso?).
Exigi ver ela registar a ocorrência, peguei o primeiro nome e função dos três, registrei o ocorrido com a administração do Shopping e segui para a 16ª. Relatei a ocorrência e vou levar a diante. Provavelmente será apenas mais um processo contra a loja, mas é questão de honra levar até a última instância. Como disse no princípio isso não é uma situação isolada, senti hoje o verdadeiro peso do racismo, aquele que transforma negra de cabelo crespo em ladra. Podem dizer que não há relação, mas enquanto eu não vir moças brancas com seus cabelos lisos relatarem fatos iguais não me convencerei.
Quero informar Ana Paula se poder entrar em contato com Centro de Referencia ou com o CDCN, pelo tel. 71-3117-1553 poderemos da uma encaminhamento referente a essa denuncia através o Ministério Publico do Estado.
Quando mais casos de racismo forem expostos e denunciados, mais rápido caminharemos para sua extinção no Brasil. O racismo brasileiro é especialmente vergonhoso pois se dirige às nossas mães – o povo brasileiro é filho de mães negra e indgena.
Este, é um modo silencioso da prática maliciosa de lojas como esta, o racismo não é um crime contra um indivíduo, é um crime de consciência, é como se voltássemos na história, só que agora, este crime veste uma outra roupagem. atos como estes, o do goleiro Aranha e outros tantos, estão previstos na constituição/88, art. 5º,XLI e XLII, A punição penal, não tira a dor sofrida, mas condiciona a eles e outros respeitar o povo que construiu o Brasil.