Elaíze Farias, de Novo Airão (AM) – Amazônia Real
A Comunidade Quilombola do Tambor também é formada por famílias que foram agregadas por uma respeitada liderança do rio Jaú, José Maurício dos Santos, tio de Sabino Nascimento, e filho de José Maria e Otília Maurícia.
José Maurício foi o responsável pela mobilização das famílias que restavam no Jaú após a criação da unidade de conservação. Chefes de família saíram de suas localidades e passaram a morar na comunidade. O principal motivador desta união foi a construção de uma escola, cuja ausência era uma das causas para as constantes mudanças das famílias para Novo Airão.
José Maurício, porém, não viu seu projeto ser viabilizado. Ele foi vítima de um acidente fatal quando sua canoa naufragou no rio Jaú em uma madrugada do mês de fevereiro de 2000.
“Foi o compadre Maurício que juntou todos nós. Muitos viviam espalhados nas outras localidades e viemos para cá para o Tambor, quando foi construída a escola”, diz Maria Helena de Assis, 53, viúva, e mãe de seis filhos jovens, todos morando no Tambor, alguns já casados.
Maria Helena de Assis tem suas origens em uma das várias localidades que deixaram de existir após a criação do Parque. Nasceu em Taboca e quando se casou foi morar no Miriti e em seguida no Tambor há 20 anos. Se diz feliz na comunidade, onde seus filhos trabalham em roça, “quebram” castanha e “tiram copaíba” (óleo vegetal de uma palmeira típica da Amazônia).
“Não penso em sair daqui. Quando é de manhã cedo meus filhos saem para pescar e sempre tem algo para se alimentar. Não me considero pobre, pois sempre temos nosso bom alimento e esse local bonito para viver”, afirma Maria Helena.
Viúva de Raimundo Nonato de Oliveira, nascido em outra localidade, chamada Cujubim, Maria Helena lembra que seu marido tinha parentesco com “os morenos do Tambor”, se referindo às famílias de origem negra que se deslocaram para o Jaú.
Vários descendentes dos primeiros casais de negros que chegaram no Jaú hoje vivem em Novo Airão. Um deles é Jacinto Maria dos Santos Filho, irmão de José Maurício, conhecido como “seu Jaço”, hoje com 81 anos. Jacinto Maria dos Santos se mudou há apenas três meses do Tambor em busca de tratamento de saúde. Em entrevista à agência Amazônia Real, por telefone, Jacinto também disse que saiu do Tambor porque estava desgostoso com a morte precoce do filho.
“Muita gente, inclusive funcionários do Ibama e do ICMBio, diziam que aqui não negro. Tem sim. Quem andar nas ruas do Novo Airão vai ver uma imensa quantidade de pessoas negras. Muitas delas saíram do Tambor”, diz Sebastião Ferreira, 54 anos, filho de Manoel Almeida, adotado pelo casal Jacinto Almeida e Leopoldina.
Sebastião Ferreira é a principal liderança do Tambor. Foi o primeiro presidente da Associação dos Moradores Remanescentes de Quilombo da Comunidade do Tambor e hoje vive em Novo Airão. Ele atua como articulador e mediador entre as famílias que continuam no Tambor e interlocutores de fora da comunidade, como é o caso das instituições públicas.
“Meu pai não dizia onde ele tinha nascido. Ele foi adotado pelo seu Jacinto. Tenho muito orgulho de pertencer à família dele. Aí vem alguém que diz: ‘Ah, mas o fulano não é negro e mora no Tambor’. Isso não importa. Ele mora na comunidade e isso dá garantia de que a comunidade é quilombola”, destacou Ferreira.