Medo é a palavra que acompanha as mulheres indígenas no dia-a-dia
Cesar Cordeiro – O Progresso
As mulheres da Reserva Indígena se uniram e decidiram montar uma comissão para protestar contra a violência que toma conta das aldeias Jaguapiru e Bororó. O crime mais preocupante é o de estupro que ultimamente tem ocorrido com maior frequência e tirado a paz das famílias indígenas.
Medo é a palavra que acompanha as mulheres indígenas no dia-a-dia. Sair a noite nem pensar. As mulheres são atingidas por este verdadeiro pânico gerado principalmente pela impunidade. Um grupo de mulheres resolveu se unir e em breve sairá as ruas para protestar. Estão previstos nos protestos os percursos do Ministério Público Federal, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Delegacia da Mulher.
Os dados são preocupantes. Somente este ano de 2014 foram 23 assassinatos, 107 agressões. Em 11 anos foram 600 mortes violentas e os estupros não param de acontecer. Na maioria dos casos a violência está associada ao consumo de drogas. Dona Eva vive um drama. A filha dela, uma estudante universitária foi atacada recentemente por um homem aparentemente negro que ocupava um gol branco, após abordá-la no centro da cidade. A dor de mãe da estudante universitária comoveu os vizinhos e vem mobilizando toda a comunidade da aldeia Jaguapiru que prepara um grande protesto contra a violência.
“Eu quero justiça, eu quero que peguem esse homem porque ele judiou muito da minha filha, ela não merecia isso, ela é de uma família evangélica, nós não temos ódio no nosso coração, nós nunca fizemos mal para ninguém”, disse dona E. G. S.
Elas reclamam a presença mais constante da Força Nacional na Aldeia para prevenir o crime e não chegar somente após o ocorrido. Exigem atuação mais firme da Funai. Itaciana Santiago pertence à Coordenadoria de Assuntos Indígenas. Ela não se contém ao falar sobre a dor que toma conta das famílias indígenas de Dourados. “Eu me coloco também no lugar das mulheres indígenas, a gente se emociona em ver o depoimento de uma mãe, nós precisamos não permitir que isso vire normalidade, temos que reverter esta situação”, disse “Itaciana Santiago” – Coordenadoria de Assuntos Indígenas.
A indígena Érica Cristina Gabriel é assistente social do Cras da Reserva. Ela conta que o órgão foi transformado em delegacia de polícia porque todos os dias é procurado por vítimas da violência. A maioria envolvendo menores. “Todos os dias a gente atende casos de meninas de sete, nove anos, treze anos, no Cras Indígena, na questão de abuso e violência sexual, a gente não vai aceitar, se for possível, para que a gente possa buscar segurança para a nossa aldeia nós vamos até Brasília, nós vamos conversar com quem for, seja da esfera federal ou estadual, essa comissão vai adiante”, disse a assistente social.