Blog do Sakamoto
Às 10h da noite do dia 22 de junho, um grisalho senhor com um pesado casaco preto e uma elegância parada no tempo tocou a campainha e me entregou um envelope. Logo depois, sumiu num táxi velho. No envelope, um documento rasgado que levou muito durex para ser recuperado. Surpresa, os paranóicos tinham razão: era um relatório de andamento da etapa 12 do Plano para a Implementação do Comunismo no Brasil.
No dia seguinte, publiquei-o aqui neste espaço. Houve espanto e ranger de dentes.
É claro que isso não ficaria impune e, nas semanas seguintes, fui seguido.
Um Lada Niva vermelho, com insulfilm nas janelas, passou dois meses estacionado, todas as noites, do outro lado da rua. Parado, estático, desesperador. Uma menininha veio até mim enquanto eu corria no parque do Ibirapuera. Disse que se chamava Rosa e passou um recado: “você sabe que não deveria ter feito isso”. Depois, perseguindo um labrador caramelo, desapareceu. E só percebi em casa que, junto com a receita para dada pelo médico, havia um postal de Havana e, nele, escrito: “La muerte nos llega a todos”. Sem contar que o cobrador da linha Vila Iório – Terminal Pinheiros cantarola a Internacional Socialista quando me vê cruzar a sua catraca.
Eles estão em todos os lugares.
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Na noite deste 31 de outubro, a campainha novamente soou, o que fez minha espinha gelar. O mesmo senhor grisalho com o mesmo casaco preto estava na porta com outro envelope na mão. Atirei contra ele um rosário de perguntas, às quais tive o silêncio como resposta. Gritei: “Por que eu? Por quê?” Sabia que aquilo ia me colocar em uma enrascada, mas não pude deixar de pegar o envelope e viver o déjà vu de vê-lo entrar no mesmo táxi velho e desaparecer.
Não sei se me deixarão livre depois disso. Mas, que se dane! Cansei de viver com medo.
Novamente peço que gaste alguns minutos para ler o conteúdo do envelope. Se não for por você, que seja por seus filhos e netos. (mais…)
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