Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental
A chefia da Defensoria Pública do Rio de Janeiro parece não ter mesmo mais qualquer tipo de limite ou de respeito pela cidadania, pelo que deveria ser a sua missão, pelos motivos que determinaram a sua criação ou, mesmo, pelo fato de sermos nós, contribuintes, que pagamos os seus salários.
Enquanto, no dia 30, a polícia militarizada do estado do Rio de Janeiro invadia as comunidades da Maré, com a habitual truculência contra mulheres, crianças, entidades, organizações da sociedade civil e militantes que defendiam os direitos humanos, a chefia da chamada Defensoria Pública se dedicava a algo de extrema importância: preparar-se para a inauguração, ontem, 31 de março, de um Núcleo no prédio da Chefia de Polícia!
Não é piada, repito: a mesma chefia que age contra os Defensores Públicos que atuaram honrosamente na defesa de comunidades como a da Vila Autódromo, dedicou-se, ontem, a comemorar, numa “parceria histórica”, a inauguração de um núcleo (com minúsculas mesmo) para estreitar laços com a Polícia da qual deveria, em casos como o de anteontem, por exemplo, estar defendendo as comunidades.
A justificativa moral da história? Segundo o “defensor geral chefe” Nilson Bruno, “A Polícia é de toda a sociedade e eu também faço parte dela. Nada mais justo do que facilitar a vida de quem arrisca a vida por todos”. Confesso minha ignorância: quis ele dizer que é policial, ou que entende a Defensoria Pública como um apêndice da Polícia?
Até onde vai esse descalabro? Até onde vai a nossa paciência? Até onde vai, acima de tudo, o total desrespeito aos Amarildos, às Cláudias da Silva Ferreira e a tantos outros e outras, que, eles sim, arriscam ou perdem suas vidas nas comunidades frente à truculência policial? Que vergonha!
Abaixo, a notícia original, publicada pela Polícia Civil do RJ:
Núcleo da Defensoria Pública do Estado é inaugurado no prédio da Chefia de Polícia
O setor deve começar a atender no mês de abril e fica no 7º andar do prédio
Erika de Castro, Polícia Civil do RJ
O Núcleo da Defensoria Pública
Participaram da solenidade, o defensor público do Estado, Nilson Bruno, o Chefe de Polícia Civil, delegado Fernando Veloso, a delegada Martha Rocha, entre
O chefe de Polícia Civil, delegado Fernando Veloso, afirmou que o núcleo da Defensoria é um projeto que motiva ainda mais os policiais, fato importantíssimo para o momento atual. “É uma forma de mostrarmos o quanto eles são importantes, que tudo depende do empenho deles”, disse na cerimônia.
O Defensor Público, Nilson Bruno, disse estar muito feliz por estreitar os laços com a Polícia Civil. “A Polícia é de toda a sociedade e eu também faço parte dela. Nada mais justo do que facilitar a vida de quem arrisca a vida por todos”, concluiu o defensor.
O núcleo terá o defensor público Franklin Roger à disposição dos policiais civis, em horário ainda a ser definido.