O direito à cidade nas manifestações urbanas: entrevista inédita com David Harvey

david harveyO geógrafo britânico David Harvey é um dos pensadores mais influentes da atualidade. Unindo geografia urbana, marxismo e filosofia social na compreensão das contradições do mundo contemporâneo, sua obra é um forte eixo de renovação da tradição crítica e ganha especial relevância num contexto de explosão de movimentos contestatórios urbanos no Brasil e no mundo.

Nesta entrevista, traduzida em primeira mão pelo Blog da Boitempo, Harvey discute as manifestações que tomaram as ruas do Brasil a partir de junho e os desafios para a organização de mobilizações urbanas de amplo escopo, assim como o lugar das novas tecnologias e dos movimentos sociais. À luz do urbanismo privatizado e securitário de Londres, o geógrafo comenta a importância do debate sobre o direito à cidade e os desafios de se pensar uma cidade anti-capitalista. Traçando paralelos com revoltas urbanas ao redor do globo, da China a Istambul, ele esboça, inclusive, acréscimos a sua obra mais recente, que dá nome e inspira o livro de intervenção Cidades rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil, que a Boitempo acaba de lançar analisando as causas e consequências das ditas “Jornadas de Junho”, e com o qual Harvey contribui como autor. (mais…)

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A nudez por trás do jaleco

O que as agressões contra os médicos cubanos revelam sobre o (não) debate da saúde pública?

Eliane Brum

A cena de um grupo de médicos cearenses vaiando os médicos cubanos, vários deles negros, que chegaram ao Brasil para ocupar postos em lugares onde os brasileiros não querem ir, é uma vergonha. Mas é bem mais do que uma vergonha. A trilha sonora da manifestação – “escravos”, “incompetentes” e “voltem para a senzala” – é reveladora de como os membros de uma carreira de elite olham para si mesmos – e se veem “ricos e cultos”, como gritaram médicos numa manifestação anterior – e de como a população que depende do SUS (Sistema Único de Saúde) é vista por parte daqueles que têm por dever lhe dar assistência. Dá pistas, especialmente, sobre a tensão social que existe nos corredores dos serviços de saúde pública, que é também uma tensão racial e de classe.

O espetáculo de racismo e de xenofobia da semana passada tornou ainda mais evidente o baixíssimo nível do embate em torno do programa Mais Médicos. Como tem acontecido no Brasil em questões fundamentais, a polarização só serve para calar a possibilidade de um debate sério, responsável e com a profundidade necessária. Neste caso, com o governo federal, de um lado, e as entidades corporativas dos médicos, no extremo oposto, o país perde uma oportunidade de discutir o tema urgente da saúde pública, cujas omissões e deficiências têm mastigado – objetiva e subjetivamente – a vida de milhões de brasileiros. E aqui desponta um silêncio eloquente: cadê a voz das pessoas que dependem do SUS nessa discussão?   (mais…)

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Carta das Lideranças Terena

Terena que lutaram na Guerra do Paraguai, enquanto suas terras eram roubadas. Acervo Comissão Rondon s/d.
Terena que lutaram na Guerra do Paraguai, enquanto suas terras eram roubadas. Acervo Comissão Rondon s/d.

Conselho do Povo Terena (Hanaiti Hó’unevo Terenoe)
Aldeia Cabeceira, Terra Indígena Nioaque

Nós, lideranças Terena reunidas no dia 30 de agosto de 2013, na Aldeia Cabeceira – Nioaque/MS, por ocasião da reunião realizada no Ministério da Justiça, no dia 27 de agosto do corrente, em Brasília, viemos a público expor:

Não iremos mais tolerar reuniões para marcarem outras reuniões!

Enquanto o Governo Federal nos enrola marcando reunião de 15 em 15 dias, a bancada do agronegócio continua articulando proposições no Congresso Nacional para tirar os nossos direitos, tais como PEC 215 e PLP 227.

No próximo dia 04 de setembro de 2013, está na pauta do Congresso Nacional a instalação da Comissão Especial da PEC 215, e nós, lideranças indígenas não iremos aceitar mais esta imposição contra os nossos direitos.

Iremos dar uma resposta à altura, caso seja instalado a Comissão Especial da PEC 215!

Enquanto estamos nas mesas de negociações esperando o Governo demarcarem nossos territórios, os ruralistas não pararam com suas manobras anti-indígena.

Nós, POVO TERENA não iremos recuar! Estamos atentos a todas as manobras do Governo, no sentido de nos desmobilizar. (mais…)

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MPT-MA cobra mais segurança em fábrica da Suzano em Imperatriz

Ação requer R$ 50 milhões por dano moral coletivo. Problemas comprometem ainda mais a integridade dos trabalhadores

Do G1 MA

O Ministério Público do Trabalho no Maranhão (MPT-MA) ajuizou uma Ação Civil Pública (ACP) contra a Suzano Papel e Celulose e as empresas contratadas para construir a sua fábrica em Imperatriz. Além de cobrar mais segurança no ambiente de trabalho, a ação requer R$ 50 milhões por dano moral coletivo.

Para construir o empreendimento de celulose em Imperatriz, a Suzano contratou a Metso Paper South America Ltda, empresa finlandesa incumbida do fornecimento de engenharia conceitual e equipamentos, que, por sua vez, contratou a Imetame Metalmecânica Ltda, do ramo da fabricação, montagem e manutenção industrial. (mais…)

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Se ouvir “Eu não sou preconceituoso, mas…”, corra para longe

Leonardo Sakamoto

Eu não sou preconceituoso, mas…

Esta frase é deliciosa. Não é um aviso de “olha, não encare isso como preconceito”, mas um alerta. Do tipo “segura, que lá vem um preconceito”. A ressalva, completamente inútil, serve, pelo contrário, para reforçar que a pessoa em questão é exatamente aquilo pelo qual não gostaria de ser tomada.

Cultivamos nosso medo e ódio, mas, às vezes, pega mal expressá-los em público assim, tão abertamente. Porque pode ser visto como crime ou delito. Ou ser alvo de críticas  – mesmo que os críticos compartilhem da mesma visão de mundo. E, além do mais, como todos sabemos, o Brasil é o país da alegre miscigenação, em que todos são considerados iguais em direitos. Os que discordam disso devem se mudar ou levar um corretivo para deixarem de serem bestas. É isso: ame-o ou deixe-o. (mais…)

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Deserto verde em expansão no Paraná. Entrevista especial com Roberto Martins de Souza

Foto: http://bit.ly/158pcV3
Foto: http://bit.ly/158pcV3

“Ao contrário do que anuncia o setor de papel e celulose, sua presença não implica em melhoria nas formas de vida locais. Por quanto esse padrão de acumulação capitalista drena há décadas toda a potencialidade econômica e social local para permitir a construção de um modelo que segue as pegadas de nossa matriz colonial, ainda que se aproprie do discurso da modernidade e da sustentabilidade”, afirma o pesquisador

IHU Online – Os 900 mil hectares de eucalipto e pinus plantados no Paraná equivalem, “em termos comparativos”, “a duas vezes as áreas dos assentamentos de reforma agrária conquistados através da luta dos movimentos sociais do campo entre 1980 e 2011 no estado do Paraná, onde vivem pouco mais de 18.000 famílias camponesas, produzindo alimentos, conservando os recursos naturais, gerando empregos e preservando a rica cultura dos povos do campo e suas formas de organização social”, diz Roberto Martins de Souza à IHU On-Line, em entrevista concedida por e-mail.

Segundo ele, o chamado deserto verde “tem provocado mudanças significativas e impactantes em comunidades camponesas da região, como: substituição de áreas de produção de alimentos da agricultura camponesa por madeira, secagem de fontes e cursos d’água, diminuição da biodiversidade e acelerado o êxodo rural na medida em que gradualmente confina os camponeses em suas comunidades”. (mais…)

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A ditadura anti-indígena no Congresso

“Uma semana de anunciados embates e debates da questão indígena no Congresso por conta dos direitos indígenas, especialmente a terra. O agronegócio parece não sossegar até não rasgar com a constituição, os direitos indígenas. Serão muito importantes as manifestação e solidariedade dos aliados dos ovos indígenas”, escreve Egon Heck, CIMI-MS, ao enviar o artigo que publicamos a seguir. Eis o artigo

IHU On-Line – “Com relação ao roubo da relatoria  do projeto da criação do Conselho Nacional de Política Indigenista, cuja relatoria estava com a deputada Janete Capiberibe, o deputado Goergen-PP-RS assim se justificou:

— “Agora, mesmo que eu não tivesse consultado, regimentalmente posso fazer isso (destituir qualquer relator e avocar para si a relatoria). Como presidente da comissão tenho a condição e poderes para designar e retirar depois. É competência do presidente. É meio ditatorial, mas é assim. Nomeio e desnomeio. Chega a ser grosseiro” (O Globo 27/08/13).

Na verdade essa é apenas uma manifestação da bancada anti-indígena no Congresso. Eles exigem, por exemplo, a instalação da comissão especial que irá agilizar a aprovação da PEC 215. Essa ação contra os direitos indígenas está prevista para o dia  4 de setembro. (mais…)

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Gás de xisto no Brasil: receita para um desastre ambiental

xistoSuzana M. Padua* – O Eco

Escrevo sobre o “gás de xisto” por perceber a gravidade da questão, se não tratada com o devido cuidado.

Participei no início de junho desse ano, do 18o Congresso Brasileiro de Direito Ambiental, em São Paulo, organizado pelo Instituto O Direito por um Planeta Verde. Em uma mesa composta por profissionais de diversas áreas, foram debatidos temas referentes a licenciamento, ética, sustentabilidade e participação pública. Um dos palestrantes, Luiz Fernando Scheibe, Geólogo, Professor Emérito da Universidade Federal de Santa Catarina e Coordenador do Projeto Rede Guarani/Serra Geral, expôs os perigos de um processo que parece avançar sem a divulgação e os passos que garantam a precaução para a proteção de uma das maiores riquezas de nosso país nos tempos atuais: a água. (mais…)

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Porque Comitês pela Desmilitarização?

A discussão sobre a desmilitarização é uma pauta urgente e necessária, os números da violência policial e a atuação seletiva da polícia remonta sua estruturação do período da ditadura militar que faz permanecer a doutrina legal e estrutura de guerra ao inimigo.

O Tribunal Popular, desde sua origem em 2008, tem discutido e denunciado a violação dos Direitos Humanos por parte do Estado, que nesse último período tem se utilizado indiscriminadamente de aparato repressivo, para criminalizar cada vez mais a população empobrecida pelo capital e em particular a juventude negra e indígena, moradoras das periferias.

Muitas foram as iniciativas no sentido de cobrar e pressionar o Estado brasileiro, tendo como um dos principais marcos a origem do Movimento Negro Unificado (MNU), que nasce para denunciar a violência policial e institucional contra a população negra. (mais…)

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