Elaíze Farias: Com início da vazante, praia artificial da Ponta Negra passará por nova vistoria do CPRM para que não haja afogamentos

Banhistas da praia da Ponta Negra aproveitam para “fugir” do calor. Foto: Implurb.
Banhistas da praia da Ponta Negra aproveitam para “fugir” do calor. Foto: Implurb.

Por Elaíze Farias

Reaberta há dois meses, a praia da Ponta Negra, em Manaus, vai passar por uma nova vistoria do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) no final deste mês. A última vistoria ocorreu em fevereiro deste ano, quando o rio Negro estava em pleno período de cheia. A vistoria faz parte do planejamento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado entre a Prefeitura de Manaus e o Ministério Público Estadual (MPE) no início deste ano.

O superintendente do CPRM, Marco Antônio Oliveira, disse a este blog que a nova vistoria vai verificar as condições atuais da praia, especialmente a topografia do fundo do rio. A medida atende a um pedido da Prefeitura de Manaus.

Oliveira disse que, apesar de não ter sido registrado nenhum afogamento na praia da Ponta Negra neste ano, a situação pode mudar com a descida do rio. Ele destacou que, se for constatado que o rio removeu a areia do aterro, será recomendado que uma contenção seja instalada.

Mortes

A praia foi reaberta em maio passado depois de ser interditada em diferentes momentos desde que foram registradas 16 mortes por afogamento entre julho e novembro de 2012. As mortes ocorreram logo após o trecho da praia artificial ter sido inaugurada. As vítimas eram sugadas subitamente por um “buraco” existente na parte aterrada.

Com a troca da administração municipal (saiu Amazonino Mendes e entrou Artur Neto), o Executivo optou por tomar medidas preventivas, com instalação de redes de proteção,  e bloqueio a determinadas áreas da praia aos banhistas.

Não houve nenhuma intervenção física por parte da empresa que construiu a praia artificial, embora especialistas reiterem que seja necessária a construção de um muro de contenção – a existência deste muro fazia parte do planejamento inicial da obra, conforme se pode verificar nas primeiras plantas apresentadas ao público, mas depois foi “deixado de lado”.

Sem muro de contenção, a areia retirada do leito do rio Solimões simplesmente foi jogada na areia do rio Negro.

Indenização

Quanto às vítimas por afogamento, nada mais se falou. O vice-prefeito Hissa Abrahão (que também é secretário municipal de infra-estrutura) chegou a anunciar que “haveria uma investigação” e uma possível indenização às famílias das vítimas, mas a promessa caiu no esquecimento. O MPE, que também sinalizou que tomaria alguma medida junto às famílias, também não anunciou mais nada a respeito.

No final de 2012, famílias de algumas vítimas entraram com um pedido de indenização na Defensoria Pública Estadual, mas o assunto, pelo que apurei, não avançou.

A praia da Ponta Negra recebeu aterramento artificial para ser transformada em uma “praia perene” para que os banhistas pudessem frequentá-la tranquilamente  nos dois períodos hidrológicos característicos da região: enchente e vazante.

O que parecia ser mais uma fonte de diversão para a população se transformou numa tragédia para muitas famílias. Banhistas desavisados (incluindo aqueles que sabiam nadar) eram engolidos por um buraco localizado na parte aterrada e morriam afogados.

Foi necessário haver 16 mortes e uma representação do MPE, além de uma vistoria do CPRM alertando sobre o caso, para que a Prefeitura de Manaus na gestão de Amazonino Mendes interditasse a praia.

A interdição durou até a gestão de Artur Neto, que optou por medidas preventivas apenas. Sem a realização de intervenções físicas.

Ano passado, ainda no jornal A Crítica, fiz esta matéria sobre as famílias afogadas.

Elaíze Farias – Povos Indígenas, Comunidades Tradicionais e Questões Amazônicas.

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